Já pensou se a Alemanha nazista tivesse ganhado a Segunda Guerra Mundial? Ou se o populista Charles Lindbergh tivesse virado presidente em 1940 nos Estados Unidos? Adaptado de obras literárias, duas séries atuais conseguem trazer propostas alternativas das histórias que conhecemos.

The Plot Against America da HBO e The Man in the High Castle da Amazon retratam temas históricos que buscam mostrar o outro lado da história com enfoque aos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial. Ou seja, em The Man in the High Castle, é apresentado um mundo, onde os nazista foram os ganhadores da Segunda Guerra Mundial. Já em The Plot Against America, a guerra já está acontecendo, mas os Estados Unidos ainda não estão participando. Entretanto, mesmo sendo um conflito mais interno no país, temos Charles Lindbergh na presidência do país, que acaba tendo uma possível ligação com Hitler. 

As propostas destas séries podem causar um choque para os espectadores. Ainda mais com The Man in the High Castle, que mostra um mundo nazista 17 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Portanto, são duas séries bem adaptadas que vou comentar um pouco neste texto. 

The Man in the High Castle 

Baseado no romance de Philip K. Dick, The Man in the High Castle pode ser considerada a primeira série da Amazon que se teve uma grande produção considerada “blockbuster”. The Man in the High Castle acabou em 2019 com 4 temporadas, onde pode ser assistida na plataforma da Amazon Prime Video

A série mostra uma versão alternativa da história do mundo 17 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Ou seja, o Eixo saiu vitorioso, resultando na divisão dos Estados Unidos entre a Alemanha, que ficou com a costa leste do país, e o Japão, que ficou com a costa oeste. No meio, ainda se tem uma Zona Neutra, ou seja, uma “terra de ninguém” entre as duas potências. 

Sobre os personagens, temos Juliana Crain (Alexa Davalos), que vive em São Francisco com seu namorado Frank Frink (Rupert Evans). Frank tem ascendência judaica, onde futuramente na série é alvo de investigação por parte dos Kempeitai, a polícia militar do Império Japonês. Já em Nova Iorque, temos Joe Blake (Luke Kleintank) que está fazendo um serviço para a Resistência, levando um carregamento para a Zona Neutra. 

Os conflitos pós Segunda Guerra Mundial

O maior conflito da série que se estabelece durante as quatro temporadas é a Guerra Fria existente entre Alemanha e Japão.Antes aliados completos e agora aliados hesitantes, a diferença tecnológica entre as duas potências coloca o Japão como alvo de militares alemães que desejam um novo conflito que permita a completa hegemonia nazista no mundo”

As duas nações portanto tem suas questões políticas e as duas acabam sofrendo o problema da Resistência. Um grupo liderado pelo “Homem no Castelo Alto”, que contrabandeavam filmes onde neles mostram uma versão dos Aliados ganhando a guerra. Ou seja, o final que conhecemos

Juliana Crain

Assim, tanto o Império Japonês, quanto os nazistas, estão em buscas destes filmes, só que Juliana acaba conseguindo um dos rolos de um dos filmes. “Os filmes feitos pelo Homem do Castelo Alto revelam algo muito maior do que aparenta: mostra que nenhum homem é capaz de fugir do seu destino, e que tudo foi traçado pela história em algum momento, e por alguma razão, acaba se tornando a maior ameaça para os poderosos.”

O mais interesse de The Man in the High Castle é que é nos apresentado uma ótima construção de personagens. Enquanto temos os protagonistas, que buscam de alguma forma acabar com o sistema que vivem com seus conflitos internos, temos os antagonistas que apoiam o sistema. Como nazistas impiedosos, mas que aos poucos nos é apresentados seus conflitos com uma imensa profundidade criada aos poucos durante a história. 

Chefe Inspetor Kido

Então, os maiores exemplos são John Smith, o Obergruppenführer que vive dilemas entre sua família e o seu apoio ao governo. Também o Chefe Inspetor Kido, que tem uma construção maravilhosa nas 4 temporadas, onde ele trabalha para tentar parar a Resistência e também impedir a ameaça nazista. E também temos o Ministro de Comércio Nobusuke Tagomi, que busca a entender do que se trata esses filmes que a Resistência possuem e que aos poucos, é aprofundado sobre sua vida. Não só de Tagomi, mas todos os personagens têm suas histórias aprofundadas ao pessoal. 

O impacto do “mundo nazista” na série pós Segunda Guerra Mundial

Time Square versão nazista

Com um orçamento bem limitado, a computação gráfica conseguiu criar uma Nova Iorque e São Francisco entregue aos nazistas e ao Império Japonês. As imagens são absolutamente assombrosas. Talvez sendo mais assustadoras na parte da Alemanha, que em todo lugar vemos a suásticas pela cidade, como também os figurinos dos personagens ajuda a estabelecer aquele mundo proposto na série.

Sobre os figurinos, depois do encerramento da gravação da série, a produção de The Man In The High Castle queimou as suásticas dos figurinos, com também outros apetrechos nazistas e ícones imperiais japoneses que chegaram a ser destruídos. 

Voltando ao cenário, o ponto forte que ajuda a impactar o que estamos assistindo sobre o mundo nazista é a composição visual. O cenário contribui para a criação da década de 60 alternativa, fortalecendo a ideia que o nazismo foi o vitorioso. Não foi atoa que a série recebeu Emmys para as categorias de melhor direção de fotografia, além também de melhor design de abertura.

The Plot Against America

Série baseada no livro “Complô Contra a América” do escritor americano Philip Roth, The Plot Against America é uma minissérie da HBO que se encontra em lançamento e terá 6 episódios, assim como foi a sua outra minissérie de sucesso de 2019, Chernobyl.

A história da série foca em uma família judia de Nova Jersey nos Estados Unidos onde acompanham uma ascensão política de Charles Lindbergh. Na série temos Evelyn Finkel, uma mulher solteira que cuida de sua mãe e tem uma ligação com um rabino ambicioso que apoia a eleição de Lindbergh. Sua irmã, Elizabeth Levin, é casada com Herman Levin, e os dois tem dois filhos e também cuidam de seu sobrinho, Alvin Levin.

Quem foi Charles Lindbergh?

Charles Lindberg na esquerda, Rabino na direita

Lindbergh foi um aviador que foi considerado um grande herói americano após atravessar o oceano Atlântico em um voo solo. Na série, como também na vida real, ele foi acusado de simpatizar com o nazismo, onde em 1936, esteve presente na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, em Berlim, ao lado de Hitler.

Portanto, The Plot Against America não foge desta proposta. Nos é apresentando a série nos anos de 1940, onde uma nova eleição iria acontecer entre Roosevelt e Lindbergh. Só que na vida real, a eleição era Roosevelt contra o republicano Wendell Willkie

Lindbergh apresentava um discurso em que os Estados Unidos iriam permanecer neutro durante a Segunda Guerra Mundial, dizendo que essas eleições eram entre “Lindbergh e a guerra”, apontando então que Roosevelt, se eleito, iria levar os Estados Unidos para outra guerra. Lindbergh também empregava seu discurso isolacionista “America First” na série, onde também chegou a ser defendido na vida real por ele mesmo, durante o começo da década de 40.

EUA se rendendo ao fascismo no começo da Segunda Guerra Mundial

Evelyn (Winona Ryder)

Lindbergh então é eleito e os Estados Unidos acabam tomando um rumo inesperado, começando a ser tomado por um clima de terror, norteado pelo antissemitismo. Já nos primeiros episódios, conseguimos assistir na série um discurso antissemitismo de Lindbergh quando Herman está escutando rádio. 

Outros momentos interessantes é que as imagens da Segunda Guerra Mundial eram reproduzidas em uma espécie de cinema. Elas ainda eram narradas, como se fosse um tipo de reportagem. Tem vários momentos da série que Herman vai então assistir a situação da Europa na guerra por meio destes filmes.

Assim, no primeiro episódio, é mostrado em um desses filmes uma pesquisa onde:

“39% dos entrevistados concordaram que os judeus deveriam ser tratados como todo mundo. 53% acreditavam que os judeus são diferentes e deveriam ser restringidos e 10% acreditavam que os judeus deveriam ser deportados”

Infelizmente, essa foi uma pesquisa real do ano de 1939.

Herman e Elizabeth

Quando Lindbergh é eleito, pulamos um tempo depois na série. Começamos com o terceiro episódio com Herman limpando pichações de suásticas no cemitério. O clima então começa a ficar tenso, onde temos alguns personagens judeus pensando em se mudarem para o Canadá para se prevenirem do pior. Mesmo assistindo essa situação, também temos momentos antes mesmo que Lindbergh fosse eleito deste tipo, só mostrando como o mundo estava seguindo, mesmo sendo uma realidade distópica. 

O antissemitismo vivido por Philip Roth

Família Levin

O próprio autor do livro Complô Contra a América conta como o antissemitismo afetou sua infância, que estava sendo estimulado nesta época que conviveu que é retratada na série. Portanto o antissemitismo era mostrado tanto por alguns cidadãos americanos, como também figuras eminentes como Charles Lindbergh, que citei, e também Henry Ford, que também aparece na série. Neste momento então Evelyn questiona o rabino sobre a presença de Henry Ford em um evento que iriam, comentando que todos sabem que ele odeia judeus. Outras figuras famosas como Chaplin e Valentino também foram citadas pelo autor

Concluindo, temos curiosidade sobre séries históricas, ainda mais com essa proposta de nos apresentar um rumo totalmente diferente, propondo mundos alternativos para acompanhar. Portanto, além de ficarmos intrigados com a trama, também gostamos dos personagens e acompanhamos eles convivendo com esses conflitos propostos pelo mundo distópico da série.

Para mais analises de séries, fica a dica de um texto meu sobre o debate do feminismo em Anne With An E.

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