Somos bombardeados com mangás de luta todo ano, e muitos são da Shonen Jump, uma revista voltada para o público jovem masculino. Assim, chegamos a sequer questionar a existência de mangás de ação que são protagonizados por mulheres. Às vezes são mulheres porradeiras, outras que utilizam poderes mágicos ou sobrenaturais, mas elas existem há muito mais tempo do que se imagina.
Os 7 mangás indicados já foram lançados no Brasil, e são muito bons para analisar diferenças de representação, poderes e modos de luta. E assim como os mangás de ação protagonizados por personagens masculinos, os mangás com protagonistas não são limitados por demografia, o que é ainda mais divertido.
Lógico que há mais que 7 mangás com personagens femininas sendo protagonistas, por isso mesmo não descartem outras sequências desse tema aqui no Chimichangas. Na lista, há clássicos, velharias e mangás que merecem a leitura! Então, vamos nessa.
Saintia Shô – Cavaleiros do Zodíaco
Em mais uma versão de CDZ, Saintia Shô é um mangá focado nas protetoras diretas de Athena, as Saintias. Além dos Cavaleiros de Bronze, Prata e de Ouro, as Saintias fazem missões mais internas e evitam catástrofes na Terra, ao mesmo tempo que são a última linha de proteção de Athena. Na história, Shoko é uma jovem que de início não aceita seu destino de proteger a Deusa da Guerra.
No entanto, ao vestir a armadura da Constelação do Cavalo Menor e decidir entrar em uma luta mortal, Shoko aceita ser treinada pelas outras Saintias e se torna uma verdadeira protetora de Athena. O mangá é canônico no universo de Cavaleiros do Zodíaco, e se passa na mesma época em que Seiya e os Cavaleiros de Bronze são apresentados.
Com isso, vemos sagas ocorrendo antes e em conjunto com a Saga do Santuário e as respectivas sequências. Os cavaleiros de ouro aparecem em certos momentos e ajudam as Saintias quando necessário. Shoko é uma garota bem carismática e lidera as missões dadas por Athena.
O mangá possui até então 12 volumes e está em publicação no Japão. No Brasil, o mangá está sendo publicado pela JBC, e está já na mesma edição do Japão. O mangá possui um anime, mas que não foi muito fiel e bem adaptado. O roteiro é do Masami Kurumada, mas em conjunto com a Chimaki Kuori, uma ilustradora fanzaça de CDZ.
Battle Angel Alita (Gunnm)
Lançado no Brasil ainda nos anos 2000, com o nome original: Gunnm Hyper Future Vision, é um dos mangás cyberpunks mais importantes dos últimos tempos. De autoria de Yukito Kishiro, a história se passa na Terra, porém em uma realidade cibernética caótica e destruída, em que há mercenários, máfias e desigualdades sociais enormes. O início do mangá é focado na Cidade da Sucata.
Gally (Alita na nova versão), a protagonista, é uma mulher que foi encontrada no lixão por um homem chamado Ido. Seu corpo estava totalmente destruído e apenas seu cérebro se manteve protegido. Assim, Ido a reconstruiu, trazendo Gally novamente para o cotidiano da Cidade da Sucata.
Em meio a uma realidade violenta e bem perigosa, Gally é uma protagonista daquelas bem porradeiras, mas que busca entender a si mesma e seus objetivos no mundo, sendo sensível quando precisa ser. Gally sabe que teve uma vida antes de Ido, mas suas memórias são confusas, e também bem antigas, de mais de 200 anos atrás.
A única coisa que mantém viva em sua memória é seu talento em lutar e utilizar armas diversas, como se ela tivesse participado de algum grupo policial, de exército ou qualquer área de combate. Ido reconhece sua forma de combate, o Panzer Kunst, uma das artes mais poderosas usadas por ciborgues humanoides.
Assim os dois passam a viver aventuras para lutar com assassinos em série e Ido procura dar um corpo resistente para Gally se tornar uma verdadeira guerreira. O primeiro mangá foi lançado em 1990, e teve 9 volumes ao todo. No entanto, o final da primeira versão foi apressado, pois o autor ficou bem doente.
Apesar disso, a primeira versão é incrível, e possui uma sequência: Gunnm Last Order (ou Alita Last Order), mas que não posso dizer muito pois é spoiler. Mas também é fantástico. Ambos os mangás foram lançados pela JBC em formato BIG e vale muito a compra. Last Order ainda está em lançamento, mas a primeira versão já está completa.
Guerreiras Mágicas de Rayearth
O mahou shoujo+RPG não podia faltar. Guerreiras Mágicas é um mangá da Clamp, considerado um clássico da década de 1990 e ganhou anime (que chegou a ser transmitido dublado no Brasil).
Protagonizado por 3 garotas: Hikaru, Umi e Fuu, a história se passe em um universo alternativo mágico, que as 3 guerreiras foram enviadas juntas, quando estavam em uma excursão do colégio na Torre de Tóquio. Nesse universo, chamado Cefiro, as 3 descobrem ser entidades mágicas que vão salvar o planeta das mãos do Lorde Zagato.
Em uma mistura de RPG em que as 3 personagens vão evoluindo conforme ficam mais fortes, com romance, drama e tragédias, Guerreiras Mágicas é um dos mangás mais completos e conhecidos da Clamp. Há batalhas com poderes mágicos e combates corpo-a-corpo e temos incríveis Mechas mágicos para deixar tudo ainda mais épico.
O mangá possui 6 volumes, com os 3 primeiros sendo de uma saga, e os 3 últimos quando elas voltam à Cefiro em outra guerra planetária. O mangá possui duas versões no Brasil, sendo a primeira em meio-tanko com 12 volumes, e o relançamento em 6 volumes. Ambos pela JBC.
Sakura Card Captors
Um tipo de mangá com uma ação diferente, mas que ainda assim marcou a infância de muitos brasileiros, Sakura Card Captors é sobre uma garota ainda do ginasial que descobre ser uma garota mágica. Com o poder do báculo sagrado, ela precisa encontrar todas as Cartas Clows e enfrentar os perigos mágicos que rondam sua vida.
Para isso, ela tem a proteção de Kero, uma espécie de leão mágico que serve também como o professor da Sakura, explicando suas missões e seus poderes. O mangá é um sucesso da Clamp também e que fez muito sucesso no Brasil e no mundo. Com 12 volumes, o mangá tem duas versões no Brasil: uma meio tanko e uma edição mais recente em tanko.
O sucesso foi tão grande, que passou na TV Globinho e recebeu muito destaque em revistas infantis, que replicavam as Cartas Clows para a molecada. É um ícone feminino e que ainda faz história no mundo inteiro. Até porque, quem não tentava repetir os dizeres da Sakura enquanto ela usava uma Carta?
Hoje ainda temos uma sequência da história, Sakura Clear Card, que também está sendo lançado pela JBC. A sequência também teve anime, que pode ser assistido na Crunchyroll.
Puella Magi Madoka Magica
Ainda continuando no mahou shoujo, Madoka Magica é considerado um marco para o gênero, que sentia falta de um ícone mor após os sucessos de Sailor Moon, Sakura e Guerreiras Mágicas. Lançado em 2011, Madoka Magica junta os poderes mágicos com tragédias e grandes momentos melancólicos.
Se inspirando mais em Guerreiras Mágicas nesse caso, Madoka conta a história de uma garota chamada Madoka, que se vê inserida em um universo de garotas mágicas, graças a um animal sobrenatural de nome Kyuubey. Ela conhece outras garotas (algumas até são amigas dela) que lutam contra entidades malignas que matam seres humanos para se alimentar.
E em meio a essa realidade, Madoka se vê no impasse de se tornar uma garota mágica e proteger os seres humanos das bruxas, mas carregar o fardo de que uma hora vai morrer. Ao realizar o contrato com Kyuubei, as garotas mágicas acabam descobrindo fatos que vão dar apenas nó na garganta de cada leitor.
Mesmo com uma decisão muito difícil a ser tomada, Kyuubey oferece a realização um pedido a cada garota que aceita se tornar garota mágica. Em um cenário bem aterrador e triste, o mangá se diferencia de outras histórias com garotas que lutam para proteger tudo e acabam bem.
O mangá possui anime, que pode ser visto na Netflix, além de vários filmes e spin-offs. Na verdade, o anime é a obra original, produzida pela Shaft, que culminou nos mangás. No Brasil, a história foi lançada pela NewPop, totalizando 3 edições, e mais 3 edições relacionados ao filme Rebellion, sequência da história.
Slayers
Tudo bem que muitos mangás citados são velhos, mas Slayers é um mangá bem esquecido da década de 1990. Criado por Hajime Kanzaka e desenhado por Shoko Yoshinaka, Slayers é um mangá que se passa em uma era medieval, com grandes inspirações em jogos de RPG.
A protagonista é Lina Inverse, uma feiticeira andarilha que une forças com um cavaleiro de nome Gourry Gabriev, ajudando vilas, famílias e pessoas que pagam pelos serviços dos dois. Com isso eles matam demônios, monstros e outras entidades mágicas, se for o caso. Tudo pelo dinheiro e pela boa comida que recebem após a conclusão dos serviços.
É um mangá muito pra brasileiro que ama RPG e comédia, pois é totalmente despretensioso e sem, necessariamente, uma boa história por trás. Digamos que podemos chamar Slayers de Holy Avenger japonês, mas muito mais voltado para comédia e aventura. No Brasil, foi lançado apenas em meio-tanko, com 16 edições, pela Panini.
Claymore
Mangá lançado inicialmente pela Shonen Jump e que acabou na Jump Square, todas da Shueisha, Claymore é um mangá majoritariamente com personagens femininas. De autoria de Norihiro Yagi, o mangá é protagonizado por Claire, uma Claymore que resolveu se tornar uma cavaleira após a morte da única figura materna que teve na infância.
Também é uma história inspirada na era medieval, mas que possui um universo bem próprio. As Claymores fazem parte de uma Organização que matam youmas, que são espécies de youkais, para ficar mais fácil de entender. Elas recebem sangue de youmas para ficarem mais fortes, e utilizam uma espada claymore, especial para matar esses monstros que assolam as vilas do continente.
O mangá foi finalizado com 27 volumes, e iniciou em 2001 na Jump. A história possui uma adaptação em anime, mas muito aquém ao que a história original entrega. Claymore junta lutas com dramas, e também alguns mistérios que vão sendo desvendados aos poucos na história. Certamente, um dos pontos fortes do mangá é a arte. Norihiro é um insano que desenha bem demais. É surreal.
O mangá foi lançado no Brasil pela Panini, mas hoje é uma das coleções raras da editora, que não reimprime as primeiras edições. Sem mais delongas, Claymore é um dos mangás da Jump mais injustiçados, e ao final foi para outra revista para se tornar mensal, ao invés de semanal. Ainda assim, foi protagonizado por mulheres em uma revista voltada para meninos, o que é sensacional.
Obs: leiam Claymore na vida de você!!!!!
Conclusão
Os mangás indicados são todos bem diferentes um do outro e nos trazem vários panoramas de como as mulheres agem, lutam e são no mangás. Temos mulheres pela visão de mulheres e mulheres na visão de homens que não enxergam apenas pedaços de carne sem carisma, mas sim grandes personagens complexos, com objetivos, força e sentimentos.
Eu não coloquei Sailor Moon pois é um clássico que já esteve em várias listas aqui no Chimichangas e eu queria mudar um pouco!! Mas, também é uma ótima indicação para começar nesse mundo com protagonistas femininas que lutam.
Na lista temos mangás shojos (Guerreiras Mágicas e Sakura Card Captors), shonens (Saintia Shô, Slayers e Claymore) e seinens (Gunnm Hyper Future Vision e Madoka Magica). Então, nada de achar que protagonista mulher só pode estar em mangá shojo ou josei, ein?