Todas as semanas vários capítulos de mangás diferentes são lançados em inúmeras revistas japonesas, em um ritmo quase sempre ininterrupto. É uma rotina, uma engrenagem que gira incansavelmente a fim de alimentar o mercado editorial dos mangás no Japão. Essa rotina se converge ao dia a dia dos milhões de leitores não apenas japoneses, mas do mundo todo. Por trás das cortinas editoriais estão os responsáveis por fazer com que tudo isso seja possível: os mangakás.
A rotina de um mangaká cuja história esteja sendo serializada em larga escala é absurdamente cansativa e sobre-humana. Um bom exemplo disso é o mangaká Eiichiro Oda, criador de um dos mangás mais bem sucedidos da história, One Piece. Oda já compartilhou alguns detalhes de sua rotina exaustiva, onde o autor chega a dormir menos de 5 horas todos os dias, passa a maior parte do tempo em seu estúdio e vê a família poucas vezes por semana. Isso porque Oda conta com assistentes para ajudá-lo. O ritmo intenso e pouco saudável é tão comum que não é nenhuma surpresa quando um mangá entra em hiato.
Quando adquiri The Manga Works eu pensei que estava comprando um jogo simples de simulação de criação de mangá. Ledo engano.
O começo de tudo.
The Manga Works é um jogo onde você é um jovem mangaká ainda começando a dar os primeiros passos em direção à oportunidade de publicar uma história em uma editora de renome. Em seu primeiro apartamento, ainda pequeno e humilde, você começa a escrever suas primeiras histórias.
O processo de criação é bem legal. Você precisa combinar um tema, cena e tipo de mangá. Por exemplo: Um mangá de batalha, com um tema de dragões e que se passa no Japão antigo. Bem maneiro, né? E você pode inclusive nomear o mangá, colocar o título que você quiser. Por fim, é preciso investir Plot Points (PP), quanto de criatividade e imaginação você vai utilizar para desenvolver aquela história.
É claro que esses PPs precisam ser recuperados depois de alguma forma e existem meios para isso, como sair de casa um pouco para buscar inspiração ou então admirar os objetos que você tem em casa (que você pode ir comprando conforme for ganhando dinheiro). No começo você tem ainda a opção de buscar um trabalho de meio período para ajudar nas despesas em casa. Afinal de contas, a vida não é fácil.
Certo, todos os critérios foram preenchidos e o personagem começa a escrever a história. A combinação escolhida por você pode resultar em alguns níveis de qualidade para o mangá. Sua combinação pode ser: Odd, Normal, Good e Gem. É claro que essa qualidade vai influenciar nas chances de seu mangá ser admitido por uma editora e também se ele vai cair nas graças dos leitores.
Finalizada a primeira história chega o grande momento: procurar a primeira editora e apresentar sua obra. Se for bem recebida, a editora provavelmente publicará seu mangá como um one-shot e você vai receber um pequeno valor por isso. E aí, essa mesma editora começa a entrar em contato para pedir alguns outros one-shots uma vez ou outra. Assim você constrói o seu relacionamento com a empresa e suas chances de ter um mangá serializado aumentam.
A rotina semanal.
Foi então que eu me vi envolta no furacão que é a rotina dos mangakás. Uma vez que você fecha um acordo para serializar uma história todas as semanas começa um ritmo intenso em que você precisa desenvolver uma história que permaneça bem avaliada no ranking da editora todas as semanas, investindo Plot Points e energia e ao mesmo tempo precisa encontrar tempo para descansar e recuperar esses PPs investido para a semana seguinte. Se você não souber administrar isso, a qualidade do mangá cai, ou então você vai para o hospital e perde dias de trabalho e a coisa só piora.
Conforme seu prestígio e sua renda vão aumentando, fica mais fácil adquirir um apartamento maior e contratar assistentes para te ajudarem a trabalhar e otimizar o tempo e abrir ainda mais as portas para editoras de maior prestígio, que te darão oportunidades como vender o mangá para o ocidente, transformá-lo em anime e por aí vai. A jornada é realmente muito divertida.
O efeito The Sims.
The Manga Works me surpreendeu muito positivamente em sua proposta, que foi me divertir com as várias possibilidades de combinação para criar mangás e ao mesmo tempo me deixou agitada enquanto jogava, tamanha foi a minha imersão na rotina da minha personagem.
O jogo traz um sentimento muito parecido com o que senti jogando The Sims, no que tange à sua característica rotineira. Por se tratar de uma mecânica basicamente de repetição: acordar, criar mangá, recuperar Plot Points, descansar, começar tudo de novo; pode acabar sendo um jogo cansativo para algumas pessoas. Por um outro lado, se você é um tradicional jogador de The Sims, vai se sentir habituado à essa repetição.
Um outro fenômeno interessante que me ocorreu, que pessoalmente eu costumo chamar de “O Efeito The Sims”, é a situação de estar jogando um jogo de jogabilidade repetitiva e me pegar presa no looping eterno chamado “Vou fazer só mais isso aqui”. E quando pego o celular para ver as horas vejo que o dia já acabou e eu não me dei conta disso.
Vale a pena?
The Manga Works foi desenvolvido pela Kairosoft e, infelizmente, seu maior ponto negativo recai em sua acessibilidade. O jogo só está disponível para celulares Android e Nintendo Switch. O jogo custa em torno de 16 reais na Play Store, plataforma a qual eu recomendo exatamente pelo fato de o jogo ser mais barato nela.
No Nintendo Switch o jogo não está disponível na loja brasileira, então seria necessário comprar por meio da loja de outro país. A título de parâmetro, na loja americana o jogo está custando – na data da publicação desta resenha – 14 dólares (aproximadamente 58 reais). A plataforma fica a seu critério, mas havendo a oportunidade, não deixe de jogar The Manga Works, que é um jogo muito divertido e uma ótima distração. Nos vemos na próxima aventura!