Com a proposta de criar um programa que oferece treinamento a jovens animadores japoneses, o Young Animator Training Project foi criado pelo governo japonês em 2011. A importância deste projeto vai além de buscar novos animadores, e sim, tentar conter o êxodo técnico do anime para fora do Japão.
O Young Animator Training Project foi lançado para ser um projeto anual financiado pela Agência de Assuntos Culturais do governo japonês. O projeto propõe alcançar o feito de uma série de curtas de animes produzidos por vários estúdios de animação a cada ano.
A busca de conter o êxodo técnico do anime se faz ao símbolo que as animações japonesas, e também os mangás, se tem para o Japão. “O processo técnico do anime possui características únicas que o fazem um dos símbolos da cultura japonesa, singularidades estas que se fazem presentes devido a conexão profunda entre o anime e o mangá”.
Então no começo do projeto, em 2011, o Young Animator Training Project lançou o Project A. Quatro curtas-metragens iriam ser feitos por estúdios e selecionados com o orçamento do governo japonês. Provavelmente você conhece algumas dessas obras, onde, mesmo curta-metragens, chegaram a virar séries de animes.
Um pouco sobre o Young Animator Training Project
Project A
“Para a maioria dos consumidores japoneses de anime, sua cultura não é mais puramente japonesa”, comenta a autora Susan J. Napier em seu livro Akira to Princess Mononoke (2001). A busca de jovens animadores japoneses para a indústria foi então mais pelo interesse de conter a internacionalização dos animes, inclusive de sua arte, do que conhecer novos animadores.
Mas mesmo assim, não podemos deixar de lado a importância deste projeto para o mercado industrial de animação japonesa. Os animadores, com esse projeto, buscavam origens de sua cultura e simbolismos para compor a narrativa de seus animes. Então, não é atoa que começou a surgir animes que retrata fortemente a cultura nipônica. Por exemplo, animes que contem artes marciais, vilarejos feudais ou elementos que chegam a demonstrar fortemente a cultura japonesas nessas animações.
Podemos ver uma grande diferença entre as animações japonesas e animações do ocidentes, inclusive, em seu aspecto visual. Mesmo podendo ter processos de produções de animações diferentes (onde já falei um pouco sobre do processo de animação japonesa aqui no site), não impossibilita profissionais de outros países a produzirem animes. “Os traços, movimentos e expressão dos personagens de anime diferem de forma evidente dos tradicionais desenhos animados ocidentais”.
Assim, a busca do governo japonês com o Young Animator Training Project é orçar uma série de curtas de animações japonesas produzidos por vários estúdios a cada ano. O projeto chegou a ser lançado pela Associação Japonesa de Criadores de Animação (JAniCA ) e a Agência de Assuntos Culturais do governo orçou a maior parte aos estúdios para treinar os jovens animadores durante o ano todo para a produção dos curtas.
Entretanto, podemos analisar que as animações evoluem a cada momento. Mas não é necessário os japoneses precisarem se isentar da própria tradição. Enquanto temos estúdios que buscam recursos digitais para a produção de animes, outros ainda preferem seguir ao tradicional, como o Studio Ghibli, que tenta ao máximo não buscar o uso de nenhum recurso digital para a suas produções.
Anime Mirai
Portanto a JAniCA começa a perceber que os tipos de produção de animações não era exatamente o problema da tradição perdida em animes, e sim, uma certa perda em seus diálogos e adaptação às técnicas pós-modernas aos animes.
Assim, em 2012, JAniCA lança o Anime Mirai substituindo o Project A. A Young Animator Training Project remodela o propósito do projeto para os novos animadores japoneses que participaram do projeto. O projeto agora buscava não mais a tradição da produção de animações japonesas, mas sim “incorporar o desenvolvimento mecanicista da indústria da animação dentro do anime”.
Os novos animadores japoneses começaram a buscar se adequar a arte tradicional do anime com às novas técnicas de animação da indústria, assim, tendo vários trabalhos de alta qualidade de animação e arte gráfica.
Vendo o grande sucesso da edição do Anime Mirai, os estúdios de animação japonesa começaram a apoiar o projeto. Até que em 2013, surge os primeiros curtas-metragem que mais tarde, ganharam uma série animada: Death Billiards da MadHouse e Little Witch Academia da Trigger.
Death Billiards
Assim, como parte do projeto Anime Mirai de 2013, Death Billiards foi produzido pelo estúdio MadHouse, e em 2015, ganha seu anime seriado, Death Parade. Tanto o curta-metragem, como o anime, foram de grande sucesso.
Assim, podemos analisar como o investimento do governo japonês para o projeto Anime Mirai foi certeiro. Conseguindo trazer os elementos atuais da produção de animação japonesa, Yuzuru Tachikawa, o diretor de ambas obras e o estúdio MadHouse, que conseguiu trazer sua marca ao anime, conseguiram ter uma grande aceitação dos fãs.
Quando temos o lançamento de Death Billiards, conseguimos perceber que o projeto Anime Mirai busca o desenvolvimento da técnica da animação japonesa para uma representação da identidade nacional, que pode aos poucos estar sendo ameaçada por conta da globalização.
Ou seja, quando Death Parade é lançado, podemos ver uma grande diferença de animação entre ele e curta-metragem lançado em 2013. Em busca de agradar não só os consumidores japoneses, a MadHouse faz mudanças, onde podemos enxergar “os valores tradicionais se mesclam a valores pós-modernos”.
Outro fator é o título do anime. Death Billiards foi lançado primeiramente com um título em japonês mas acabou incorporando o título em inglês depois do lançamento de Death Parade, com o intuito de tradução para os países do ocidente, inclusive nos Estados Unidos, para facilitar o reconhecimento do anime para o público fora do Japão.
Se você quiser uma analise completa sobre a obra de Death Parade, já comentei um pouco no site, onde faço discuto as abordagens dos elementos principais debatidos do anime
Little Witch Academia
Mesmo que a dinâmica do Anime Mirai busca fortalecer a produção técnica do anime nacional, ele também propõe as animações japonesas para um público internacional. Assim acontece com Death Billiards e também com Little Witch Academia, anime original do estúdio da Trigger.
O curta-metragem foi dirigido por Yoshinari, escrito por Masahiko Otsuka e lançado em março de 2013 nos cinemas japoneses. Mais tarde, ele foi transmitido, junto com legendas em inglês, no Youtube a partir de abril. Em 2015, um segundo curta-metragem foi lançado, uma parte financiado pela Kickstarter, uma empresa americana.
Em 2017, Little Witch Academia ganha sua série animada que foi ao ar no Japão. O mais interessante que depois os episódios foram para o catálogo da Netflix. Ou seja, a produção, que foi feita no Japão, com financiamento de um projeto que busca estimular a produção técnica do anime nacional. Mas também tem um grande interesse do mercado ocidental na obra que acabam ajudando na distribuição do anime para o mundo.
“A animação do futuro”
Concluindo, conseguimos analisar como o Young Animator Training Project foi um marco importante para a indústria japonesa de anime, não só para o Japão, quanto para o mercado mundial.
Os estúdios japoneses perceberam que poderiam produzir seus animes sem precisar seguir as tradição da produção de animações japonesas. E também sem deixar de lado os recursos digitais para a produção de animes. E sim, trazer essas tecnologias ao seu favor para produzir seus animes mesmo com uma arte tradicional que remete a cultura da animação japonesa.
Conseguimos ver então que, mesmo que aconteça uma internacionalização do produto, o Japão ainda consegue manter sua tradição local. Os países, inclusive os Estados Unidos, tendo interesse nas animações japonesas, só mostra a capacidade da adaptação de culturas distintas ao nosso cenário mundial.
Portanto, depois de 2015, o projeto, antes chamado de Anime Mirai, é atualmente conhecido como Anime Tamago. O projeto parou de ser patrocinada pela JAniCA, e é agora patrocinada pela Associação de Animações Japonesas (AJA).