Recentemente eu perguntei no Twitter quantos episódios são necessários para convencer um espectador a continuar ou não assistindo um anime. As respostas foram das mais variadas. Desde pessoas que afirmaram precisar de apenas alguns minutos do primeiro episódio até outros que disseram que assistem um anime do começo ao fim, independente de terem achado bom ou ruim.
É claro que no meio desses dois extremos tiveram várias outras respostas. Pessoalmente, costumo seguir a regra dos 3 episódios, quando se trata de um anime que eu não sei absolutamente nada sobre a história, personagens, etc. Nos casos de animes que comecei a assistir a partir de algum conhecimento prévio que me chamou a atenção, costumo dedicar um pouco mais de episódios.
Foi pensando nisso que decidi criar esse modelo de texto, chamado “Os 3 primeiros”. Essa proposta é o seguinte: basicamente, eu assisti 3 episódios de Golden Kamuy e transcrevi meu o ponto de vista e sentimentos durante cada um desses episódios. À partir disso, vou falar sobre a história, animação, opening, etc. Tentarei fazer isso sempre de forma a dar o mínimo de spoilers possível para o leitor, de modo que eu não comprometa totalmente a experiência de quem decidir assistir.
Para quem nunca ouviu falar de Golden Kamuy, o anime estreou em 2018 pela Geno Studio. Transmitido pela Crunchyroll aqui no Brasil, o anime é uma adaptação do título em mangá, que já foi lançado no Brasil pela Panini (ainda em lançamento).
Esse tende a ser um texto bem mais informal que os demais aqui do site, ou seja, serei mais eu, compartilhando pensamentos e opiniões que me ocorreram enquanto via esses 3 episódios. Por fim, depois de um resumo de tudo e das últimas considerações, espero concluir se continuarei ou não assistindo o anime em questão. Sem mais delongas, vamos aos 3 primeiros episódios de Golden Kamuy.
Episódio 1: Wenkamuy
De cara já é mostrado que os eventos do começo do episódio se passam no ano 1904, ou ano 37 da Era Meiji. Na Península Liaodong, o exército japonês está se preparando para atacar as forças russas em uma montanha coberta por neve.
O protagonista é Saichi Sugimoto, um soldado japonês que vai com tudo para cima dos combatentes russos e, movido por uma determinação inabalável, derrota vários soldados e consegue sobreviver à uma situação que normalmente seria considerada como mortal. Por sempre sair triunfante de circunstâncias de perigo iminente, Saichi Sugimoto passou a ser conhecido como “Sugimoto Imortal”.
Fica claro que esses eventos que estão sendo mostrados remontam ao passado, na linha temporal do anime, tendo em vista que mais adiante somos levados para Hokkaido, onde vemos Saichi Sugimoto nos tempos atuais, tentando garimpar algumas pedras num pequeno riacho, atrás de pequenas pepitas de ouro e demais pedras preciosas.
Um homem claramente alcoolizado faz companhia à Saichi, jogando conversa fora enquanto abastece ainda mais o próprio organismo com álcool. Durante esse bate papo, o bêbado conta uma história sobre a existência de uma enorme quantidade de ouro (20 kans, mais aproximadamente, o peso de um homem em ouro), que teria sido reunida por um homem. Perseguido pela polícia, esse homem foi preso e, antes que pudesse dizer onde estava todo o ouro, foi sentenciado e levado para o corredor da morte.
Esse prisioneiro – aspirante à Gol D. Roger da Era Meiji – queria encontrar um jeito de dizer para seus companheiros que estavam livres onde ele havia escondido o tesouro. Para isso, o sujeito tatuou o corpo de seus colegas de cela no corredor da morte, com códigos que, juntos, diziam onde estava o ouro. Em seguida, esse mesmo prisioneiro incentivou seus colegas tatuados a fugirem da prisão, dizendo que quem conseguisse levaria metade do seu tesouro.
Um detalhe é que as tatuagens nos corpos dos presidiários estavam “incompletas”. Ou seja, elas não formavam um desenho com começo e fim em uma só pessoa. A razão disso é que para desvendar o código seria preciso juntar todas as tatuagens, unindo o fim de uma no começo da outra e assim por diante. De um jeito curto e grosso, para completar o mapa seria preciso esfolar a pele de todos os prisioneiros, para juntar todos os desenhos.
Assim aconteceu, os presos fugiram em meio à uma floresta, exceto o “Gol D. Roger da Era Meiji”. Esse ficou pra trás, porque seus tendões haviam sido cortados por um guarda, para que ele não pudesse escapar.
A história toda pareceu interessante para Saichi, que precisa juntar uma grande quantidade de ouro para poder cumprir uma promessa que fez ao seu melhor amigo durante a guerra.
Nosso amigo embriagado acaba tendo um fim trágico e Saichi descobre que ele era um dos presos da história, ao ver as tatuagens em suas costas. Isso serviu como uma comprovação de que não se tratava de conversa fiada. Saichi decide ir atrás do famigerado ouro.
Saichi é surpreendido por um urso feito com um CGI absurdamente horroroso e começa a correr para se salvar. Uma garota caçadora surge e com suas habilidades de arqueira salva a vida do protagonista. Essa menina se chama Asirpa e ela pertence à uma tribo chamada Ainu. Saichi compartilha a história com Asirpa e a convida para se juntar à ele, tendo em vista que ela também tem interesse pessoal nessa jornada. Vale ressaltar que também aparece um lobo durante o episódio, também em CGI, também absurdamente horroroso.
Pro meu gosto pessoal, é um primeiro episódio bem morno, que desenvolve pouco o protagonista e não me convence a torcer por ele. A animação é bem legal, mas o que desanima muito é ver os animais feitos com uma computação gráfica muito ruim, ao ponto de incomodar mesmo. Mas ainda restam dois episódios, quem sabe a coisa melhore.
Episódio 2: Nopperabo
Saichi e Asirpa chegam à conclusão de que existem quatro cidades principais onde os fugitivos podem estar: Sapporo, Hakodate, Ashitaka e Otaru. Novamente, o anime situa o momento histórico dos acontecimentos, explicando que trata-se do fim da Era Meiji. Saichi descobre também que, obviamente, outras pessoas também estão atrás desse tesouro.
No caminho em que iam, Saichi e Asirpa são seguidos por um cara cuja inteligência não é das mais proeminentes, tendo em vista que ele é quem acaba sendo capturado pela dupla logo em seguida. Para a surpresa de ninguém, esse sujeito é um dos prisioneiros tatuados. Asirpa, que é veementemente contra matar outras pessoas, encontra uma alternativa para não ter que matar e esfolar os tatuados. Fazendo uso de papel e lápis, Asirpa passa a fazer desenhos das tatuagens. Os dois aproveitam para conseguir mais alguns detalhes sobre o homem que fez todas essas tatuagens.
Saichi é abordado por um companheiro do exército, pertencente à 7ª Divisão de Hokkaido – a mais forte de todas – e é obrigado a lutar contra ele. Como consequência da luta, o soldado acaba caindo de um penhasco e bate a cabeça numa pedra, antes de cair em um riacho e ser levado pela água. Mas é claro que ele não morreu e eu e você sabemos disso, né?
Eu tenho um problema muito sério com caça. Detesto ver bichinhos sendo abatidos, esfolados e cortados. Então, esse foi um episódio muito difícil de assistir e por muito pouco eu não abri mão de continuar vendo. Entendo que Asirpa vez ou outra compartilha seus conhecimentos de caça e sobrevivência com Saichi, mas foi desagradável e desconfortante para mim assistir esse momento de caça e culinária com tantos detalhes.
Por uma incrível coincidência do destino, Saichi e Asirpa pegam outro prisioneiro tatuado e fazem uma cópia de sua tatuagem. Ao se distraírem acabam percebendo que ele escapou. Durante a perseguição, Saichi e o fugitivo caem em um rio gelado e precisam trabalhar em equipe para não morrerem congelados. Isso resulta em uma cena bem cômica, pela primeira vez no anime. Em troca de sua vida, o prisioneiro dá mais informações importantes para Saichi.
Como havíamos previsto, o soldado da 7ª Divisão sobreviveu, foi resgatado, tratado e acabou acordando. Um personagem novo, chamado Tenente Tsurumi, é informado sobre a situação do soldado acidentado e demonstra muito interesse em conversar com ele.
O segundo episódio foi mais movimentado e dinâmico que o primeiro, mas ainda assim falhou em desenvolver melhor os personagens. Asirpa demonstra ser bem mais abordada pela história que Saichi, que permanece sendo “só mais um cara” pra mim.
Esse episódio teve opening! De cara tive a sensação de que conhecia a voz e o estilo da música e tudo fez sentido quando vi que era uma música da banda Man With a Mission, a mesma que canta duas openings de Nanatsu no Taizai. Embora eu particularmente tenha alguma simpatia com as openings cantadas por Man With a Mission, a música de Golden Kamuy me pareceu ser a menos legal deles até então.
Episódio 3: Kamuy Mosir
Assim como no episódio anterior, Asirpa dá mais algumas dicas de caça para Saichi. Dessa vez ela o ensina a caçar ursos que estão dormindo em seus abrigos durante o inverno. Segundo uma lenda do povo de Asirpa, os ursos não matam aqueles que entram em seus abrigos. Uma lição que viria a calhar futuramente.
A jornada dos dois personagens fica novamente tumultuada quando mais homens do exército começam a persegui-los. A dupla decide se separar, mas Asirpa é encontrada logo em seguida por um dos soldados, que percebe que ela está com as cópias das tatuagens. O mesmo lobo com a computação gráfica sofrível do primeiro episódio aparece para salvá-la. Asirpa pede para que o lobo não mate o soldado, que já estava com uma das pernas quebrada.
Enquanto isso, Saichi é seguido pela maioria dos soldados e, em um ato de desespero, resolve testar se a lenda do povo de Asirpa é verdadeira ou não. Ele se enfia dentro de um abrigo de urso para se proteger dos ataques dos soldados. Estes, em sua infinita ignorância, têm a brilhante ideia de atirar lá dentro, momento em que um urso surge e ataca todos eles. Por incrível que pareça, a lenda é verdadeira. (Não entre em tocas de ursos, pelo amor de Deus!)
Como consequência do ataque, um urso filhote acaba ficando órfão. Saichi decide levá-lo consigo e em seguida se reúne à Asirpa. Ao ser indagada se o soldado atacado pelo lobo estava morto, esta mente e diz que sim, para evitar que Saichi o elimine. Mas é claro que nós sabemos, novamente, que esse soldado com a perna quebrada não vai se dar por satisfeito, não é mesmo? Pois é exatamente o que acontece. Ainda caído, o oficial fica embasbacado com o lobo que o atacara e decide que vai caçá-lo nem que seja a última coisa que ele faça.
O bebê urso é levado para a aldeia de Asirpa e lá os dois personagens são recebidos e acolhidos pela avó de Asirpa, uma senhora que tem a boca cinza. Durante esse encontro, muitas informações importantes para compreender melhor o universo da história são compartilhadas. Coisas essas que eu não vou detalhar aqui para poupar o leitor de spoilers mais pesados.
Mais uma vez o Tenente Tsurumi aparece, agora aparentemente rastreando os soldados do começo do episódio. Um outro oficial surge para questionar as decisões de Tsurumi, que reage como qualquer outro ser humano faria. Ele morde e arranca o dedo indicador do oficial. Devido à sérios ferimentos sofridos na região da cabeça, Tsurumi é um homem desequilibrado (caso isso já não tivesse ficado claro antes).
Encerrando o terceiro episódio, mais um dos prisioneiros tatuados aparece. Este recebe uma visita de um velho espadachim que tem cara de ser muito louco, e que foi ao encontro do criminoso fugitivo para lhe fazer uma proposta.
Esse foi, de longe, o melhor episódio dentre os 3 primeiros. Houve um dinamismo muito maior que nos anteriores e um pouco mais da personalidade de Saichi e Asirpa foi desenvolvido, mesmo que a passos de tartaruga.
Resumindo:
Golden Kamuy carece de personagens carismáticos, sobretudo os protagonistas. Saichi e Asirpa são negligentemente pouco desenvolvidos e aprofundados durante os 3 primeiros episódios. Isso é um problema para aqueles que gostam de se envolver na jornada dos personagens, abraçar a causa e as ideias de um ou todos. Dei o braço a torcer quanto a isso no primeiro episódio, mas houve tempo suficiente nos dois episódios seguintes para começar a preencher essa lacuna, o que não aconteceu.
Não dá pra se basear somente na história, que aliás, nem é tudo isso também. A premissa de ir atrás de um grande tesouro escondido de maneira misteriosa por alguém não é novidade. A motivação de Saichi é nobre, mas novamente caímos na questão da falta de profundidade dos personagens e de suas relações. A causa de Saichi é explicada com um flashback curtíssimo que não convence. Acontece o mesmo com a motivação de Asirpa. É nobre? É. Foi bem explicada? Não.
Eu espero que nos episódios seguintes essas questões sejam solucionadas e fique mais fácil criar empatia com os personagens principais e abraçar a causa deles. Contudo, acho bem problemático que em 3 episódios eu tenha sentido uma carência tão grande nesse aspecto.
Vou continuar assistindo?
Talvez. Até o segundo episódio eu estava convencida de não continuar vendo, mas o terceiro conseguiu despertar algum interesse em mim e por isso creio que vou insistir e ver mais um. Entretanto, vai depender muito se a continuação vai conseguir manter minha curiosidade e continuar corrigindo os erros dos dois primeiros episódios. Caso contrário, creio que vou parar no quarto episódio mesmo.
E fique tranquilo porque se eu der continuidade e assistir Golden Kamuy até o final, certamente voltarei aqui no site para fazer uma resenha completa com minha opinião sobre toda a temporada do anime.
E é isso. Essa é a ideia por trás desse tipo de texto. Trata de um texto piloto, meio que testando o formato. Por isso, pode ser que, caso haja uma sequência, adequações sejam feitas para tornar a leitura e a experiência o mais agradável possível. Por isso, fique à vontade para comentar dizendo os pontos que agradaram e os que podem melhorar nessa proposta de texto.
E lembre-se que as opiniões emitidas aqui não são a verdade suprema do planeta Terra. São opiniões pautadas no meu gosto pessoal e na minha experiência assistindo o anime. Assim sendo, eu recomendo que você assista Golden Kamuy, que está disponível no catálogo da Crunchyroll, e tire as suas próprias conclusões. Nos vemos na próxima aventura!
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