A criança precisa de uma infância saudável e cheia de diversão, isso é um fato. Mas e aquelas crianças que passam por sofrimentos logo que são jovens? O anime Kujira no Kora wa Sajou ni Utau é um dos animes que retrata esse tipo de situação.
Lançado em 2017, pelo estúdio da J.C. Staff, Kujira no Kora (Filhos da Baleia) retrata a história de um mundo coberto por um mar de areia, e nesse mar, navega uma ilha sem rumo, conhecida como Baleia de Lama.
Nessa ilha, moram dois tipos de habitantes. Os considerados normais, que conseguem viver tranquilamente bons longos anos e os chamados de “Marcados”, aqueles que possuem habilidades sobrenaturais e por isso, acabam vivendo apenas por poucos anos. Na ilha, possuem mais habitantes com essas habilidades naturais, por isso que, é natural que a ilha tenha muitas crianças.
A história foca no protagonista Chakuro, uma criança Marcada. Ele é o arquivista da ilha, jovem e curioso. Ele, então, passa o maior tempo documentando o que acontece na ilha da Baleia de Lama e sobre novas ilhas que eles vão descobrindo no caminho sem rumo que sua ilha faz.
Tudo muda quando os habitantes da Ilha da Baleia descobrem uma nova ilha, onde encontram vestígios de uma civilização arcaica. Ainda na ilha, Chakuro encontra uma garota, e assim o destino dos habitantes da Baleia de Lama irá mudar.
Quando pensamos em filmes e até em animes com crianças, não pensamos em realidades complexas. Animes como Non Non Biyori, que narra a vida cotidiana de 4 amigas que se envolvem em qualquer tipo de diversão e brincadeira, ou Barakamon, que retrata o cotidiano de Naru, uma garota de 7 anos que conhece um calígrafo promissor, Sheishuu Handa… Assim sendo animes que trazem a inocência que uma criança tem.
Mas diferente desses dois animes que citei, Kujira no Kora trás um universo totalmente diferente e com um olhar infantil sobre situações que são permeadas pelo sofrimento. Infelizmente, essas crianças jovens chocaram rapidamente com o mundo dos adultos. E ainda de uma forma sofrida.
O começo de Kujira no Kora já nos traz contratempos
Primeiramente, no primeiro episódio, nos é apresentado como funciona o mundo dos personagens, em que a maioria, são crianças e adolescentes, Chakuro, o protagonista, tem 14 anos.
Chakuro conta sobre a Baleia de Lama, o ano que eles estão e sobre o que está acontecendo exatamente na ilha. É interessante como já é nos dado características do personagem principal. Da mesma forma, por ele ser o arquivista da ilha, ele sabe de tudo que acontece na ilha. Ainda mais no primeiro episódio, Chakuro anda pela ilha, e indiretamente, nos é introduzido os personagens, como eles são. E ao fundo, Chakuro narra os problemas da Ilha da Baleia.
Outro ponto interessante que Chakuro narra nos primeiros momentos do primeiro episódio, é que os habitantes não podem chorar quando alguém falece. Ele comenta que é uma tradição. Chakuro fala que toda vez que alguém morre que é próximo dele, ele chora.
E se for parar para pensar, quantas pessoas tão próximas de Chakuro devem ter falecido, já que a maioria dos habitantes da vila, que são Marcados, não conseguem chegar aos seus 30 anos?
Pessoas tão jovens acabam morrendo, uma das coisas mais tristes que já é trazido na história. Mas olhando pelo lado dos habitantes normais, eles também acabam sofrendo. Suou, um jovem de 17 anos, um não-Marcado, se preocupa com sua irmã que é Marcada. Ele se dedica aos estudos para entender e tentar evitar a morte de pessoas tão jovens na ilha.
Mesmo com esse problema dos Marcados, Chakuro e as crianças tentam viver suas vidas normais na Ilha da Baleia de Lama. Eles treinam seu timia, que é o poder sobrenatural que os Marcados possuem, e brincam pela ilha.
Vale ressaltar que, um fator importante, os habitantes são totalmente dependentes da ilha. Além de ser a casa deles, a Ilha da Baleia se move sem rumo pelo mar de areia. Os habitantes não conseguem controlar ela.
Desapego das emoções
Outro fator que as crianças e o resto dos habitantes levam na ilha, é sobre as emoções. No primeiro episódio, Chakuro vai conversar com Suou, e se tem uma cena muito interessante do personagem segurando suas mãos e o garoto explica, narrando, que as pessoas seguram as mãos daquele jeito para reprimir suas emoções.
Da mesma forma, para a cena que eu citei de Chakuro dizendo que tem uma tradição que não se pode chorar quando uma pessoa morre. Mesmo sendo uma ilha cheia de crianças, onde elas transmitem alegria e se divertem para lá e pra cá, se tem uma cultura trazida de gerações que as pessoas não podem transparecer suas emoções.
Por outro lado, analisamos outro fator. Os personagens encontram uma nova ilha no mar de areia e eles param por lá e Chakuro encontra Lykos. Primeiramente, não se sabe de onde a garota veio, mas Chakuro trás Lykos para a Ilha da Baleia.
Aos poucos é revelado que Lykos não consegue transparecer nenhuma emoção. A garota, nos seus 14 anos, sozinha em uma ilha, com vestígios de humanos mortos. Se tem uma cena que o conselho da Ilha da Baleia pergunta a Lykos se o sentimento de viver sozinha e perder todos seus companheiros não foi doloroso. Ela apenas responde que não tem sentimentos.
Não ter a possibilidade de sonhar
Por mais que tudo, as crianças são sonhadoras. Desejam de tudo um pouco e sonham com diversas coisas diferentes. Mas não em Kujira no Kora.
Por Chakuro trazer esse sentimento de inocência e pureza, como muitas crianças na ilha, não é mostrado a vontade dele conhecer o mundo a fora, além da Ilha da Baleia. Além disso, mesmo pelos contratempos, Chakuro gosta da ilha.
Mas se tem outros personagens que não são como Chakuro. Ouni, adolescente de 16 anos, não aceita viver apenas na Ilha da Baleia, com a desinformação do resto do mundo. Para atrapalhar, o conselho da ilha, composto por idosos (ou seja, pessoas não marcadas), fazem de tudo para não soltar qualquer tipo de informação de diferente para os habitantes.
Assim sendo, os habitantes da ilha vivem em uma completa bolha sem esperar algo diferente. O destino deles é viverem na Ilha da Baleia para sempre, morrendo aos 30 anos se são Marcados e sem nenhuma informação sobre o mundo a fora.
Entretanto, Ouni é a quebra dessa ideia. Ele é líder de um pequeno grupo que constantemente quebram as regras da ilha e segue uma linha diferente dos outros personagens da obra. Se Chakuro é a inocência, aquele que quer viver até seus últimos momentos na Ilha da Baleia de Lama, Ouni é contra tudo isso.
Ele trás um forte desejo de ver o mundo além da Baleia de Lama mas é totalmente reprimido pelos anciões da ilha. O desejo de um adolescente de 16 anos não podem ser realizados.
A guerra para as crianças
No terceiro episódio, é mostrado uma invasão a Ilha da Baleia por soldados. É revelado que os soldados não possuem nenhum tipo de emoção, como Lykos. Pode ser um dos pontos que, sem dó, os soldados acabam machucando e matando as crianças da ilha.
É um sentimento de desespero e angústia. Os habitantes passavam por problemas na ilha, isso é um fato, mas, por sempre viverem lá e serem retratados nessa bolha, de não saberem sobre o resto do mundo, não chegava a ser um fardo para eles. As crianças poderiam viver suas vidas, sem se importar com as regras e com o tempo de vida curta.
Entretanto, agora é trazido a guerra. Algo totalmente novo para aquela ilha. Crianças são mortas, adultos, e muitos feridos. O jeito que é retratado no anime é um sentimento desesperador, você sofre junto com os personagens.
E mesmo depois que a invasão acaba, os personagens vão ter que “enterrar” as pessoas que morreram. Eles tentam seguir a tradição de não chorar, mas infelizmente, eles não conseguem.
Agora, mesmos jovens, as crianças e os adolescentes daquela ilha vão ter que lutar uma guerra que não precisava ser deles. Com total inexperiência, eles vão ter que treinar sua timia para lutar de novo com esses invasores que vão novamente invadir a ilha.
A maioria dos habitantes já não tinham tanto tempo de vida, e agora, vão ter que se aventurar em uma guerra. As crianças vão perder totalmente o tempo que é necessário uma criança ter, a infância.
Mais perdas acontecerão no anime, os desejos reprimidos das crianças vem a tona e as emoções não conseguem ser mais seguradas. Além de mais sofrimento, as crianças vão se aventurar em um lugar totalmente diferente.
Assim sendo, por todo esse sofrimento que o anime nos trás, Kujira no Kora é um anime que nos apresenta uma obra cheia de emoções. Além de uma animação totalmente diferente porém muito bem feita, é um anime que vale a pena assistir.
Em conclusão, Kujira no Kora retrata, de forma trágica, o universo da infância de várias crianças e adolescentes que estão crescendo em uma ilha, em que não podem sair, não podem fazer nada de diferente. Mas mesmo assim, tentam viver suas vidas. Mas tudo muda quando a guerra chega.
Kujira no Kora wa Sajou ni Utau é adaptação de um mangá escrito por Umeda Abi. O anime tem uma temporada de 12 episódios que estão disponíveis na plataforma da Netflix.