Analisando dois animes de Narita Ryohgo, criador das novels de Durarara e Baccano, ele consegue trazer sua marca para ambas histórias com sua narrativa e seus personagens criados.
O que eu quero dizer é que, às vezes, esbarramos com animes que só assistindo, podemos adivinhar que ele pertence a um estúdio ou um diretor pelo jeito que a narrativa é conduzida ou que a animação é nos apresentada. Isso quer dizer que, muitas vezes, o estúdio, ou o diretor, quem quer que seja, tem uma certa “marca” sua, que fazem nós, espectadores, identificar.
Mas quando digo sobre estética, não quero analisar apenas a animação, e sim todos os elementos que acabam compondo a história, inclusive a narrativa. Os dois animes que citei, consegue de alguma forma, trazer uma narrativa bem interessante para o espectador.
Vale ressaltar que tanto Durarara e Baccano, são do mesmo estúdio, Brain’s Base. Mas apenas a primeira temporada Durarara foi animada pelo estúdio Brain’s Base, onde as outras, foram animadas pelo estúdio Shuka, onde o segundo estúdio ainda conseguiu manter essa proposta.
A narrativa não linear de Durarara e Baccano
Não é fácil fazer uma história não linear. Neste caso, um enredo não linear acontece quando a história não segue uma sequência cronológica. A história pode se desenrolar com retrospectivas, cores, rupturas no tempo e espaço com momentos de saltos, de uma forma descontinuamente.
É muito comum também quando se tem uma narrativa não linear, que o tempo cronológico mistura-se ao psicológico. E desta forma, é como esses dois animes trabalham sua narrativa.
Falando sobre Baccano, talvez, quando assistimos o primeiro episódio, nos dá uma certa confusão. Basicamente, ele brinca com os acontecimentos que são nos mostrado. Assim, percebemos que a animação trabalha com três anos diferentes: “1930, em que ocorre uma espécie de guerra entre máfias em Nova York; 1931, quando o expresso transcontinental Flying Pussyfoot parte pela primeira vez desde sua inauguração; e 1932, em que o jornal Daily Days tenta enumerar e organizar todos os fatos relacionados ao incidente do ano anterior, com a locomotiva citada anteriormente.”
Como disse antes, não é fácil fazer uma história não linear, mas Baccano consegue fazer esse feito. Com um roteiro bem interessante que se fecha de uma forma muito boa, sem pontas soltas, ele apresenta uma proposta de narração muito interessante. Vemos ponto de vistas de vários personagens, que falarei mais para frente.
Durarara segue uma proposta diferente. Ou seja, enquanto a narrativa não linear de Baccano se dá conta do porque se passa em diferentes anos, Durarara tem a ideia de pontos de vistas de diferentes personagens.
Muitas vezes, em um episódio, é escolhido focar em um personagem. Já tem outros, que acabam focando em alguns. Às vezes, eles até brincam com a noção do tempo. Explicando melhor com um exemplo: Estávamos acompanhando a história de Izaya e ele passa na rua e esbarra com Shizuo. Acompanhamos o fim da história de Izaya daquele momento e voltamos a ver o que Shizuo fez aquele dia, esbarrando de novo com o Izaya como na primeira vez.
O interessante é que o autor não deixa de uma forma exposta às vezes se estamos vendo o presente, passado ou futuro, se aquela ação foi antes ou depois de outras. Você só vai assistindo, e de certa forma, não fica uma narrativa tão confusa, é mais interessante de acompanhar.
O núcleo de personagens
Os personagens desses dois animes da Brain’s Base são outro ponto importante. Tanto Baccano, como Durarara, trabalham com uma gama de possibilidades para explorar já que nos trazem bastantes personagens com conflitos diferentes.
Já analisei um pouco da construção de personagem em Durarara neste texto, mas de uma forma geral, o autor consegue criar um complexo relacionamento entre eles. Um conflito aparece e se desenvolve, e que aos poucos, todos são arrastados para o problema.
Além disso, em todas as temporadas e problemas que a história nos propõe, e os personagens também, acabam girando em torno de Ikebukuro, onde se passa a história e os Dollars, o grupo de Mikado e o talvez o maior causador de conflitos da história (depois de Izaya, claro). Os personagens tem uma ligação entre si por causa do lugar que moram e as confusões que acontecem por lá.
Já Baccano nos apresenta outra gama de personagens. Acompanhamos também vários pontos de vistas de personagens, como Durarara, só que por se passar em três momentos diferentes, Baccano tem isso mais pontuado. Seguimos então a rotina de doze personagens onde todos chegam a parecer protagonistas da história.
A ideia pode prevalecer a desordem para nós, ainda mais no começo, mas aos poucos, vamos entendendo como cada personagem funciona e história vai desenrolando. A ideia é que, mesmo tendo personagens totalmente diferentes com tramas talvez incomuns, eles acabam seguindo a mesma rota da história. Concluímos que, todos os personagens acabam girando do mesmo destino, da mesma rota.
Animes que possuem bastante personagens, é comum trabalharem os subplots também, ou seja, partes da história que se desenvolve separadamente da história principal. Só que aos poucos, esses subplots vão se juntando ao plot principal, envolvendo todos os personagens, gerando um grande conflito.
Juntando os dois pontos analisados
Narita Ryohgo, juntando esses dois pontos que analisei, consegue trabalhar com suas histórias com vários personagens. Aprofundando seus problemas pessoais enquanto a história é contada.
Com a proposta de narrativa não linear, o autor consegue focar em alguns personagens, trabalhando o ponto de vista dos mesmos diante da história e o conflito apresentado. Dessa forma, conseguimos entender mais a fundo a personalidade e as opiniões que eles possuem.
Além de outros pontos como as determinações, propósitos e personalidades fortes dos personagens que acabam destacando nas duas obras. Tendo esses pontos de vista, o autor consegue trabalhar portanto a profundidade dos personagens.
A narrativa, além de ser não linear, tem uma ideia de não ser tão expositiva, ou seja, o anime não tem a proposta de expor totalmente o background e os personagens da história em seu primeiro momento. O anime vai nos dando a proposta aos poucos até começarmos entender a narrativa proposta.
Talvez para alguns espectadores, seja confuso assistir um anime que traz pontos de vistas de personagens diferentes, ainda mais de vários personagens. Mas precisamos entender que, mesmo sendo uma proposta arriscada, é interessante que o autor consiga trabalhar com um núcleo grande de personagens e consiga desenvolver muito bem eles.
Caso a parte: Mawaru Penguindrum
Mawaru Penguindrum, anime do estúdio da Brain’s Base, chega a ter ideias parecidas como citei acima, mas não chega a ter o mesmo criador e muito menos o diretor. Mas é interessante citar que ele também brinca com a narrativa não linear, nos trazendo flashbacks para ajudar a completar a história e reforçar a relação dos personagens, ou seja, os três irmãos.
Ele tem também uma proposta muito interessante em sua animação, que ajuda a complementar alguns elementos para contar a história. O diretor do anime, Kunihiko Ikuhara, “marca logo de cara sua excêntrica personalidade em Mawaru que traz uma harmonia lírica entre os diálogos, cenários, cores e trilha sonora”.
O interessante de assistir Mawaru Penguindrum, é que você assiste e acaba lembrando muito de Durarara e Baccano pelo jeito da narração de ambos animes. Desta forma, mesmo tendo diretores diferentes, mas estúdios em comuns, Mawaru Penguindrum é um semelhante a esses dois animes e esses pontos que citei acima.
Talvez não tanto aos personagens porque realmente é se trabalhados com poucos, mas são aprofundados de uma forma indireta, sem tanta exposição. Mawaru Penguindrum pode ser a escolha certa se você é fã de Durarara e Baccano ou vice-versa.