Definitivamente não há como negar que esta é a era dos super-heróis. Eles tomaram conta das plataformas de entretenimento, das conversas de elevador, do meio jornalístico, da cultura pop, enfim, estamos cercados. Há mais de dez anos nossos olhos vêm brilhando com atos heroicos atrás de atos heroicos e ainda ficamos impacientes a cada promessa de novo filme. A partir disso, o que me ocorreu foi que não haveria melhor momento para essa adaptação cinematográfica de “The Boys”.
The Boys – dos quadrinhos para série
Série que teve sua primeira temporada de oito episódios estreada no fim de julho deste ano pela Amazon Prime, “The Boys” de Seth Rogen, Evan Goldberg, e Eric Kripke é baseada no extremamente violento quadrinho de mesmo nome de Garth Ennis e Darick Robertson. Publicada entre 2006 e 2012 a HQ se passa em um universo onde super-heróis existem, mas com uma abordagem incomum ao que estamos acostumados a ver. Apesar de algumas diferenças entre a série e os quadrinhos, desde a história até a personalidade dos personagens, a série consegue abordar bem o essencial da HQ.
E se você acha que a série é muito violenta, os quadrinhos são de explodir a cabeça.
A realidade é que fui ler os quadrinhos somente depois de assistir a série, ou seja, não fazia ideia de sobre o que ela seria. Nos primeiros minutos aparecem heróis maravilhosos – confesso que acreditei ser mais do mesmo, mas fui em frente. O foco então muda para Hughie Campbell (Jack Quaid), um garoto comum que trabalha como vendedor em uma loja de eletrônicos, com uma vida ordinariamente simples. Em um dia qualquer, enquanto passeava com sua namorada (única coisa aparentemente boa de sua vida) vê o herói A-Train (Jessie T. Usher) atropelá-la. Sangue, vísceras e pedaços de Robbie são arremessados para todos os lados. É a partir daí que tudo que conhecemos sobre heróis na televisão, se modifica e a destruição da imagem do herói acontece.
Hughie, tomado pelo trauma de perder Robbie e repleto do sentimento de vingança é encontrado por Billy Butcher (Karl Urban) que no primeiro momento diz trabalhar para a CIA, mas que na verdade leva a vida à procura de acontecimentos e pistas que mostrem quem realmente são os “supers”. Hughie apesar de saber pouco sobre Butcher, acaba por entrar para seu grupo formado por Mother’s Milk (Laz Alonso) e o assassino de aluguel Frenchie (Tomer Capon). Os três já haviam trabalhado juntos antes tentando, sem sucesso, acabar com a fama da equipe de heróis The Seven, porém agora retornam, já que Butcher tem informações importantes a mais.
The Seven
Além de A-Train, The Seven é composta por The Deep, com clássicos poderes aquáticos, o invisível Translucent, a super forte Queen Meave, o ninja silencioso Black Noir, e o líder Homelander. A equipe não tem interesse nenhum em salvar o mundo, somente correm pelo bem próprio e auto promoção.
Os heróis em “The Boys” são treinados pela megacorporação Vought para serem celebridades. Todos seus atos de “bem” são controlados por Madelyn Stillwell (Elisabeth Shue) e, caso haja deslizes, ela também faz com que passem despercebidos. Muitos desses atos grotescos podemos ver pelos olhos de Starlight, a mais nova heroína recrutada para compor a equipe.
Starlight é uma genuína heroína que busca ajudar as pessoas, mas que apesar de ser uma pessoa boa, através de seu jeito hiper altruísta é fácil ver que, como qualquer pesso ela também procura por dinheiro e fama, sonhando em estar entre a equipe The Seven. Por conta dessa ambição, a garota participa dos testes para o grupo e consegue passar por ter uma boa imagem, mas ao entrar percebe que cada passo dado pelos Supers é controlado pelo marketing da empresa e tudo que ela acredita começa a ruir.
Destruição da imagem
A destruição da imagem do herói já foi abordada antes, além disso, magistralmente, por Allan Moore no anos 80 em Watchmen e, apesar de ter talvez menos aprofundamento niilista e mais apelo sexual e violência gratuita, “The Boys” também consegue mostrar a podridão humana e como as pessoas fazem qualquer coisa quando têm poder em suas mãos.
Usufruindo de super poderes para enfeitar o tema, Garth Ennis aborda o lado mais cruel da humanidade e, ainda mais, aborda como é fácil cegar o povo perante os que têm mais poder. “As pessoas precisam de heróis” e mesmo que vejam as coisas ruins acontecerem pelas mãos dos “Supers”, se recusam a acreditar e indagar se aquilo é realmente o que a sociedade precisa. Aparentemente uma série chocante como The Boys era o que precisávamos nesse momento.