ROUND 6 (ou Squid Game, como é originalmente conhecida) é uma série sul-coreana da plataforma Netflix. Desde 17 de setembro de 2021, data da estreia do seriado, é possível afirmar que virou febre entre os telespectadores, ocupando o top 10 das produções mais assistidas — durante o período de lançamento até o momento atual.
Tal fator se dá por inúmeras razões, como será apresentado mais para frente. Por enquanto, cabe indicar o diretor e roteirista, chamado Dong-hyuk Hwang (Silenced, My Father), responsável pela criação de um ambiente carregado de suspense e drama, sem medo de apostar em cenas de morte e sangue. Em razão disso, a classificação indicativa da obra é de 18 anos.
Outra consideração importante é a disponibilidade de legenda e dublagem em português disponíveis, permitindo maior acessibilidade.
Uma corrida de vida ou morte pelo prêmio
A história começa com um convite misterioso, feito para 456 pessoas. O ponto em comum entre elas é que não possuem dinheiro, estão falidas e com o sentimento de fracasso nas costas. A partir daí, surge a oportunidade de participar de uma competição para alcançar o prêmio de 45,6 bilhões de Wons (moeda da Coreia do Sul), tendo apenas um ganhador.
Ocorre que a disputa envolve sobrevivência, então acaba sendo mais uma motivação — e necessidade — para a vitória, além da questão financeira. Assim, movidos pelo desespero, pela ganância, pelo desejo e pela esperança de uma vida melhor, aceitam correr o risco. Não imaginavam, no entanto, que o percurso seria um verdadeiro pesadelo, marcado por ações e sentimentos repugnantes: traição, inveja, ira, desconfiança, luto e vários outros.
Contrastando com essa realidade mortífera, estão os tons coloridos e vivos dos ambientes em que os participantes vivenciam os mais intensos desafios. Isso porque os jogos são criados com base nas brincadeiras infantis tradicionais da Coreia do Sul. Inclusive o título “Squid Game” significa “Jogo da Lula”, tida como um entretenimento para as crianças do referido país, principalmente na década de 1970 e 1980.
Round 6, como toda “brincadeira”, também têm suas regras. São elas: 1. O jogador não pode parar de jogar; 2: O jogador que se recusar a jogar será eliminado; 3: Os jogos terminarão se a maioria concordar. Fáceis, não é mesmo? Mas elas podem se tornar inusitadamente complicadas no decorrer da série.
Atuações marcantes em Round 6
Na trama existe um protagonista, chamado Seong Gi-hun (Lee Jung-Jae) — jogador 456. Ele mora com a mãe, enfrenta problemas financeiros e está endividado com agiotas, além de ter a possibilidade de nunca mais ver a filha. Essa última parte impacta bastante nas decisões dele, pois gostaria de ser um pai melhor e mais presente.
Acompanhar os passos do ator principal é interessante, mas as cenas melhoram quando os outros personagens são apresentados. Primeiro pela curiosidade em saber como era a vida de cada um, segundo pelo carisma e apego desenvolvidos em relação a alguns, podendo citar Kang Sae-byeok (Jung Ho-Yeon) — jogadora 067, Ali (Anupam Tripathi) — jogador 199 e o jogador 001, interpretado por Oh Young-Soo.
Também é verdadeiro o contrário, no sentido de passar raiva e sentir desgosto por outros participantes da competição. Isso é bom para a série, por significar que causou o efeito desejado, resultando em uma mistura significativa de sensações.
Vez ou outra despertava angústia, irritação, até mesmo ódio, enquanto em outras situações criava uma torcida para tudo dar certo. No meio dessa bagunça, ainda sobra espaço para melancolia e tristeza. Ou seja, uma verdadeira montanha-russa, em que cada indivíduo tem o seu ponto forte ou fraco, propiciando reações únicas e inesperadas na audiência.
Cada elemento importa
Uma das partes mais relevantes de Round 6 é o ritmo dado a toda trajetória caótica. Como muitos sabem, séries costumam ser mais longas e dependendo dos acontecimentos, fica difícil prender o espectador.
No entanto, isso é uma tarefa fácil para a obra em questão, não sendo necessária a utilização de finais apelativos em cada episódio. O enredo por si só já atrai quem está assistindo e a curiosidade para os próximos desafios fala mais alto. Torna-se natural a descoberta pelas excentricidades seguintes.
Todo o conjunto flui naturalmente e tudo vira um atrativo, até mesmo o simples figurino, em razão das cores escolhidas e dos símbolos (quadrado, triângulo e círculo). Isso convida o público para mais perto, permitindo o comércio (fantasias, colecionáveis funko pop etc) e a influência do seriado no cotidiano (discussões políticas, recreativas, educacionais etc).
E é claro, não teria como não mencionar os cenários e as tonalidades mais uma vez, ambos carregados de intenções e possíveis easter eggs. O que mais chama a atenção, todavia, com certeza é o ar lúdico, como se todo o espaço ignorasse a seriedade do contexto real e do jogo. Foi uma escolha acertada e que fez toda a diferença.
Por fim, a trilha sonora que acompanha tudo em modo misterioso, acelerado e brutal, com um som que fica na cabeça, denominada Pink Soldiers. É um toquezinho arrepiante e notável, mais uma vez o básico ganhando destaque.
Um sucesso que faz sentido
Round 6 é relevante por diversos fatores, como foi mostrado ao longo do texto. Mas vale acrescentar a garantia de entretenimento proporcionada pelo seriado, bem como as críticas sociais feitas, as quais são de suma importância para a sociedade atual.
O foco não é debater tais aspectos e sim apontar a existência deles. Logo, pode-se citar a desigualdade, a religião, a democracia e o sistema capitalista, a natureza humana e os limites entre bem e mal. É uma lista relativamente curta e com apenas alguns exemplos, entretanto, já é suficiente para levantar inúmeros debates e reflexões.
Com certeza há mais pontos positivos do que negativos na série, cabendo mencionar a parte ruim de maneira breve, que seriam as inconsistências de certas situações, gerando um sentimento de forçar ocorrências para encaixar o enredo. Ademais, o último episódio, com um final um tanto quanto previsível e meio sem brilho diante de todo o resto.
De qualquer maneira, a recomendação é assistir Round 6. O tempo vai passar voando e o desejo será de uma segunda temporada — que segue sem confirmação até então. Por último, trazer apenas uma curiosidade para quem está lendo: o valor do prêmio, em reais, é de R$ 208.845.119,58. E aí, participariam para ter a chance de serem milionários?