Mike Flanagan é o diretor do seriado original Netflix, baseado no livro A Maldição da Casa da Colina, escrito pela Shirley Jackson. Ao contrário do livro – extremamente influente na história do terror ocidental – a série apenas pega inspirações e referências, mas a história é totalmente diferente. 

A série foi lançada em 2018 e assim como American Horror Story, será um seriado em que as temporadas são únicas e exclusivas, como uma antologia do terror. Portanto, a temporada 1 tem início meio e final nela mesma, sem necessidade de continuação. A temporada 2 foi anunciada e será lançada em 2020, trazendo alguns atores da primeira temporada para fazer outros papéis na segunda. 

O nome da segunda temporada será A Maldição da Mansão Bly, inspirada no livro de Henry James de nome “A Volta do Parafuso”. A temporada sobre a Residência Hill (que também é uma mansão) foi um grande sucesso e ainda é considerada uma das principais mídias do terror atual. 

Apesar de eu achar um tanto exagerado esses títulos e a melação sobre o seriado, ele tem muitos méritos. Não sou uma assídua espectadora de filmes e seriados de terror, porém o seriado merece ser mais discutido, já que as mídias de terror vem ganhando mais espaço e deixando de ser colocados como “produções B”. 

Antes de mais nada, uma pequena sinopse para quem não sabe nada do seriado e também aos que se interessam por mídias de terror. 

Sinopse: A própria Casa da Colina, desprovida de sanidade, ergue-se solitária contra os montes, abrigando a escuridão. Foi assim durante 100 anos e talvez seja assim por mais 100. Em seu interior, as paredes continuam de pé, os tijolos se unem em simetria, o assoalho é firme e as portas estão fechadas. O silêncio repousa soberano sobre a madeira e pedra na Residência Hill. E os que andam por lá, andam juntos.

Shirley (Elizabeth Reaser/Lulu Wilson), Theo (Kate Siegel/Mckenna Grace), Nell (Victoria Pedretti/Violet McGraw), Luke (Oliver Jackson-Cohen/Julian Hilliard) e Steven (Michiel Huisman/Paxton Singleton) são cinco irmãos que cresceram na mansão Hill, a casa mal-assombrada mais famosa dos Estados Unidos. Agora adultos, eles são forçados a confrontar os fantasmas do passado, após um terrível suicídio de alguém próximo. 

https://www.youtube.com/watch?v=TvELCT5LGQw

O seriado conta com alguns atores já conhecidos, mas não são figuras extremamente famosas. Kate Siege fez alguns filmes de suspense, enquanto Elizabeth Reaser fez outros seriados, com aparições em Grey’s Anatomy, e Michiel Hiusman também já teve sua carinha estampada em filmes de romance. 

A resenha será separada pelos pontos positivos e negativos, para ficar mais fácil de assimilar. O texto não tem nenhuma intenção de ser uma crítica profissional, e sim uma resenha com opiniões simples, na intenção de debater um pouco o seriado. Lembrando que alguns pontos podem ter spoilers, então se não viu nada do seriado, recomendo ver primeiro. 

Pontos positivos

O mercado de terror é extremamente constante, com criações diversas que nem sempre chegam às salas de cinema e se tornam shows de bilheteria. O mesmo ocorre com seriados, animações e curtas. Mesmo assim o gênero é extremamente tradicional e tem uma comunidade grande de amantes.

Porém o gênero acaba sendo 8 ou 80. Ou as pessoas gostam muito, ou as pessoas ficam longe por terem medo e detestarem essas mídias. Esses extremos têm lados bons e ruins para o gênero. Os que são fãs realmente consomem muito a mídia, procuram se informar e debater sobre, e demonstram amor por onde passam. Já os que detestam praticamente não experimentam nada do gênero, desbalanceando totalmente o cenário.

Terror na medida certa

Porém, a Maldição da Residência Hill foi um fenômeno diferente, com condições de quebrar essa barreira e tornar a balança mais equilibrada. O terror é um gênero amplo também, e explora diversas características, como o terror psicológico, suspense, seriais killers, sobrenatural, entre outros. 

A fama é que esses filmes são sempre pesados, ou trashs demais, chegando ao ponto de serem engraçados e não sombrios. A Maldição da Residência Hill pega alguns estilos do terror e une em uma história só, o que acaba criando um ambiente em que o terror não é nem tão pesado, nem trash, nos fazendo se interessar pela história por trás, e não na procura por sustos. 

A Residência Hill te chamando para entrar na casa (The Haunting of Hill House)

Aos que gostam de filmes mais pesados e que procuram jump scares (literalmente pular de medo), o seriado não é exatamente o mais indicado, mas ele é perfeito para quem quer começar no gênero terror, mas não quer algo que pode desestabilizar totalmente seu psicológico. 

Ao contrário de muitas produções do gênero, a Residência Hill não tem a intenção de te prender pelos sustos, na verdade os 10 episódios que compõem o seriado não são aterrorizantes. O seriado tem seu mérito por criar as tensões na hora certa e criar personagens extremamente carismáticos.

O trailer dá uma boa enganada, selecionando cenas muito específicas que sem contexto, dão medo. Porém, ao ver os episódios em sequência, o medo não se torna o sentimento mais presente. No máximo, suspense da mansão Hill é o que mais deixa a gente tenso, tentando entender o funcionamento dela. 

O drama familiar e as jornadas dos 5 irmãos e os pais da família Crain são os acessórios fundamentais que deixam o seriado incrivelmente interessante. O drama e suspense criam um ambiente perfeito para os momentos de terror serem mais impactantes e importantes para a própria história. Portanto, o grande mérito é ser um seriado de terror com uma boa história e que as cenas de susto e medo não são colocadas gratuitamente, mas com sentido. 

Equipe de  produção 

Um dos maiores méritos do seriado está na produção dele. A ambientação é incrível, a narrativa escolhida prende o espectador, e melhor, os efeitos e a maquiagem são de um nível altíssimo. São maneiras de tornar tudo mais real e sério, ficando longe das produções trashs, que possuem também seu mérito. 

Além disso, ver os personagens adultos, vivendo em uma sociedade modernizada e tecnológica, torna o terror diferente. Essa mistura torna a narrativa muito diferente, e encaramos as dúvidas de adultos que não sabem se o que possuem é psicológico, mental ou é mesmo o terror da Residência Hill

Com isso vemos personagens se tratando psicologicamente. A Theo, a irmã do meio da família, é formada em psicologia, com PhD e tudo. Ela mesma entende as diferenças entre o que é real e sobrenatural, pois é sensitiva. Justamente por isso ela sabe que a maioria das vezes os problemas das crianças (ela é especializada em psicologia infantil) não são medos do que não existe, e sim de coisas muito palpáveis e reais, totalmente longe de espíritos, fantasmas e demônios. 

Exatamente por isso temos uma produção toda mais pé no chão, sabendo a hora certa de colocar as doses sobrenaturais e as que não têm nada a ver com entidades do além. Além disso, os episódios possuem diversas cenas repetidas, porém com visões diferentes de cada irmão, o que torna tudo mais genial.

Atuação dos personagens

Tirando alguns clichês de produções do gênero, no geral a atuação dos personagens são muito boas, bem diferente da maioria dos filmes de terror. Todos possuem história e problemas a serem resolvidos. 

Tudo gira em torno da família Crain, então temos a visão de todos eles, de como se sentiram, de como foram suas experiências e assim por diante. A construção de cada um foi muito bem pensada, e cada ator assimilou com precisão seu personagem, o que garantiu uma atuação acima da média. Outro mérito que faz com que o seriado seja bom para quem está iniciando no gênero.

A família Crain na casa Hill, na década de 90, quando os filhos eram pequenos. Da esquerda para direita: Theo, Hugh (o pai), Shirley, Luke, Elanor, Steve e Olivia (a mãe).

Pontos Negativos

Mesmo com ótimas atuações, produções e acertos, nem tudo é tão grandioso assim. Por vezes o seriado pode parecer um pouco confuso e nada explicativo, e são defeitos que podem incomodar bastante o espectador. 

A tal da “Maldição”

As jornadas dos personagens culminam todas na Residência Hill, e esse suspense todo nos deixa muito vidrados em saber que tipo de maldição é essa, quem foram os grandes responsáveis por tornar a casa daquela forma. 

Porém até o fim não sabemos bem o que ocorreu para a casa se tornar uma grande residência faminta por pessoas e vidas. É possível entender como ela mexe com os personagens, mas não porque ou como ela se tornou aquilo. Ela não é de todo o mau, as entidade dali não são todas demoníacas e nem possessivas. 

É comum que histórias de terror não tenham explicações de tudo mastigado, para deixar aquela sensação do pensar, da reflexão e também para criações de teorias. Mas, como o seriado tem foco na história e no drama dos personagens, pode existir uma expectativa que tenha mais explicações. Não tem. No fim, muita coisa ainda fica no imaginário. 

Pequenos deslizes

Alguns momentos podem trazer raiva e revolta, principalmente nos momentos do Steve, o filho mais velho da família Crain. Ele é escritor de histórias de terror, e fez um livro sobre sua própria família, atitude tida como babaca por boa parte da família. Porém o livro fez muita fama, o que rendeu bons lucros ao Steve

Esse ranço permeia boa parte dos irmãos, o que traz discussões afloradas e atitudes bem egoístas e problemáticas do Steve. Só que ele é considerado o protagonista mor do seriado, e que fica sabendo mais coisas sobre a Residência Hill, o que pode trazer ainda mais desconfortos. 

Ele insulta as irmãs, trata sua própria mãe e irmã como loucas psicóticas o tempo inteiro, como se ele fosse superior à elas. Seu irmão Luke, viciado em drogas e álcool, é tratado como lixo por Steve, que é amargo, frio e muitas vezes calculista. 

Steve, o que se acha o valentão, mas na verdade entende um total de ZERO coisas.

Essas problemáticas chegam a um desenvolvimento, porém algumas coisas inacabadas e deslizes para o término dessas crises podem incomodar bastante. O Steve, apesar de não sair totalmente ileso de críticas e escárnio, acaba conquistando o carinho de todos e é perdoado facilmente por seus irmãos, quase como se fosse melhor esquecer do que resolver as questões. 

Ele tem sua redenção, mas o custo acaba sendo um pouco alto demais. 

Conclusão

A Maldição da Residência Hill é uma ótima pedida aos novatos do terror, que querem algo com suspense, drama e pitadas de terror. As cenas não são pesadas e gratuitas, apesar de alguns clichês de sustos e burrices de personagens (nossa, tem algumas partes do seriado que eu não entendia como os adultos eram idiotas daquele jeito).

É fácil se identificar com os personagens, torcer por eles e querer saber o final de cada um dos irmãos. O final não é a coisa mais elaborada possível, mas não é horrorosa e nem catastrófica. Você cria algumas expectativas e o final é morno, ainda um pouco confuso, porém é super assistível e tem mais pontos bons que ruins. 

Depois dele você pode tomar coragem de ver séries mais pesadas e filmes aclamados pela crítica. Vai na fé, confia na Pah e veja, porque eu sou cagona demais para terror e achei o seriado tranquilo, sem deixar rastros de medo na hora de dormir. Você também pode ter coragem de ver, porque o seriado é, no geral, realmente leve.

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