Não é segredo para ninguém que Grant Morrison é um dos roteiristas mais importantes da história dos quadrinhos, com grandes histórias dos X-men, e de super-heróis. WE3 Instinto de Sobrevivência é um marco dos quadrinhos, uma história que hoje é facilmente considerada um clássico do século XXI. 

Criada por Grant Morrison e ilustrada por Frank Quitely (outro nome gigantesco dos quadrinhos), WE3 conta a história de três animais domésticos roubados por um setor das Forças Aéreas dos Estados Unidos ultra secreto. Com o objetivo de tornar os 3 animais em grandes potências bélicas. 

Lançado em uma minissérie de 3 volumes entre 2004 e 2005, no Brasil a história foi lançada em edição definitiva em 2012 pela Panini Comics e ainda hoje é facilmente encontrada nas lojas especializadas e livrarias. Além da linda inovação na arte, a história de WE3 é comovente, ao mesmo tempo que levanta críticas ferrenhas contra as forças armadas norte-americanas, numa época que passou a se discutir muito a invasão do exército dos EUA ao Iraque

Os animais não possuem nomes, e são conhecidos como 1 (cachorro), 2 (gato) e 3 (coelho)

Os três animais são compostos por um cachorro (labrador e vira lata), um gato malhado e um coelho preto e branco. Além dos 3 animais, o setor governamental serve a um senador norte-americano, fazendo diversos projetos experimentais com outros animais. Entre eles estão uma ninhada de ratos, e outros protótipos. 

Apesar de ações secretas feitas com sucesso com os animais, com mortes de grandes criminosos – a ponto de estampar matérias de capa em jornais – o senador Dan Washington acha melhor não continuar com a linha dos animais domésticos tão próximos do homem, e pede para o setor desativar os animais (ou seja, matá-los). 

A operação WE3

A ideia da operação WE3 consistia em matar “ditadores fajutos”, incluindo criminosos de alta periculosidade, traficantes e mesmo terroristas. Acontece que a história reforça não só as experiências eticamente questionáveis, mas também a política a frente de ações violentas, que poderiam culminar em perigos ao próprio país. 

Os 3 animais domésticos passaram por experimentos científicos pesados, a ponto de poderem trocar conversas básicas com humanos, terem corpos robóticos e armas pesadas e habilidades incríveis. Eram armas que precisavam de cuidados 24 horas por dia, além do setor mantê-los estritamente fora de qualquer chance de fuga. 

Porém, o senador resolveu desativar a operação, dizendo que os animais já sofreram tudo que poderiam e que mereciam ter uma felicidade no fim. Apesar de condescendente, o senador tava interessado em outro protótipo de animais mais fortes e mais modernos, que fariam mais estrago do que os três animais domésticos.

O feitiço contra o feiticeiro

Ao saberem que os três animais seriam sacrificados, como se fossem de fato objetos inanimados, uma das cientistas resolve dar uma dose injetada nos animais, que os deixariam mais fortes, ou mais raivosos, e conseguiriam escapar da segurança máxima das Forças Aéreas.

Muitos morreram na fuga, mas os animais, apesar de terem certas noções de comunicação, seguem seus instintos de sobrevivência. Ao fugirem, um descontrole total surgiu: as próprias forças armadas dos Estados Unidos teriam que parar 3 animais fortemente armados e que lutariam até o último suspiro, puramente por instinto. 

E aí vemos que um projeto experimental, de brincar com vidas alheias, deu muito errado. O trio de animais já tinha feito muitas missões juntos e foram treinados para trabalharem como equipe. Eles tinham facilidade de matar um número grande de um grupo armado, então a história é rodeada de sangue e muita cena violenta. 

E os autores não pegam leve com os cientistas que tinham carinho pelos bichinhos. Todos ali recebem críticas muito claras de que o projeto experimental era eticamente errado. Os 3 animais eram inofensivos antes, e foram torturados, dissecados apenas pelo desejo humano de poder. 

Conclusão

A arte e história são espetaculares, com um fim que me deixou mais aliviada do que eu esperei no início de tudo. É uma HQ absurdamente essencial para quem curte quadrinho, é curta e não é cara. 

E, como a maioria das mensagens das HQs ocidentais, possui política do início ao fim e muita crítica ao modus operandi das Forças Aéreas dos Estados Unidos. É simplesmente escancarado. Não à toa, qualquer país precisa de autocrítica, e na arte isso é ainda mais forte. Grant Morrison faz isso com maestria, juntamente com a arte de Quitely, que, sinceramente, foi a mais bonita que eu pude ver dele. 

Conclusão é simples: leiam. É impossível dissociar política de entretenimento em WE3 Instinto de Sobrevivência.  

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