Tokyo Ghoul é uma obra japonesa de sucesso estrondoso. A jornada começou em 2011, a partir da publicação do mangá escrito e ilustrado por Sui Ishida. O trabalho dele atingiu diversos recordes no número de cópias vendidas no Japão e no mundo.
No Brasil, foi licenciado e publicado pela editora Panini desde 2015, enquanto em terras orientais recebia espaço pela Shueisha, na revista Weekly Young Jump. Atualmente, encontra-se finalizado, contando com uma sequência denominada Tokyo Ghoul:re (também concluída e lançada no país).
A série têm outras mídias relevantes, tamanho o impacto causado em sua recepção pelos espectadores. Há três light novels, um artbook, animes, OVAs (Original Video Animation), jogos eletrônicos, uma peça de teatro e filmes (em versão live-action).
Diante do fenômeno alcançado, parece oportuno conversar sobre a adaptação cinematográfica. Isso porque foi inaugurada a continuação, produzida pela Geek Sight e distribuída pela SATO Company no Brasil, em dezembro de 2020, com o título “Tokyo Ghoul S”.
E pelo fato de live-actions sempre deixarem o público questionando se vale a pena ou não. Logo, qual o sentimento que resta, decepção ou contentamento? Vamos descobrir!
O início de Tokyo Ghoul
A história de Tokyo Ghoul adiciona elementos de fantasia e terror em uma realidade tida como normal e cotidiana na sociedade de Tóquio. Afinal, surgiram criaturas à espreita, apelidadas de “ghouls”, as quais são intimidadoras e aterrorizantes pelo fato de comerem carne humana. Ocupam, assim, o topo da cadeia alimentar e modificam as relações preexistentes.
Além disso, existe a dificuldade de identificar os carniçais. Afinal, esses seres, na maior parte do tempo, possuem a aparência e a inteligência semelhantes às dos humanos.
Tal fator, aliado a outras circunstâncias, como incessantes ataques e poderes desconhecidos, fez com que surgisse uma Comissão de Contra Medidas Ghoul (CCG). O objetivo da facção é eliminar a ameaça e realizar estudos sobre os ghouls, para que a sociedade consiga se defender.
O enredo básico é esse, mas para quem nunca teve acesso à obra e adoraria conhecer e entender mais, fica a recomendação do podcast do Cantinho da Pah.
Eu e ela conversamos sobre o mangá, fizemos uma apresentação geral de conteúdo, personagens, dilemas, traços e arte, enfim, um apanhado com as partes mais relevantes. Vale a pena dar uma conferida, pelo entusiasmo e ao mesmo tempo pelas informações valiosas.
Conhecendo novos Ghouls
Com relação ao primeiro live-action, tem-se que foca na vida de Ken Kaneki (Natsuki Hanae), um estudante universitário tímido e amante de livros.
Ele passa por um acidente durante um encontro com uma garota chamada Kamishiro Rize (Kana Hanazawa), momento em que descobre que ela é uma ghoul. Após a revelação, a bela jovem tenta atacá-lo, mas os planos dela acabam falhando e os dois sucumbem à acontecimentos alheios e fatídicos. O resultado é um transplante de órgãos em Kaneki, transformando-o em um ghoul, mas não por completo.
A partir daí, a vida de Kaneki muda totalmente, tornando necessário aprender sobre a sua nova existência.
No caminho, encontra “aliados” e “inimigos”, sempre refletindo se há apenas uma verdade e uma justiça. Se há a possibilidade de definir uma dicotomia de bem e de mal em relação a cada grupo.
Quanto ao segundo live-action, a abordagem gira ao redor de um dos melhores personagens de Tokyo Ghoul, justamente pela excentricidade: Shuu Tsukiyama (Shota Matsuda), conhecido como “gourmet”.
O codinome é em razão da procura pelas melhores refeições, primando por alimentos raros e únicos, marcados por banquetes “elegantes” e sanguinários em um restaurante somente para ghouls.
Portanto, marca o envolvimento do protagonista com outros carniçais. De maneira a mostrar que cada uma das criaturas têm seus próprios valores e sua própria força na busca pela sobrevivência. Prova disso é a tentativa de Tsukiyama de se alimentar de Kaneki, enquanto Kirishima Touka (Sora Amamiya), uma colega de trabalho, tenta ajudá-lo.
Um encanto incompreendido
Alguns dos elementos que mais merecem elogios são o figurino e a escolha de atores, assim como a ambientação. Os personagens ficaram bem fiéis, tanto em aparência quanto em personalidade.
Talvez a única parte negativa seja a ausência de extravagância. Como exemplo: o cabelo da Rize, em que optaram por um tom castanho ao invés de roxo; ou então as roupas de Shuu Tsukiyama, onde também há cores mais neutras.
De todo modo, não são escolhas que prejudicam a obra, apenas dariam um charme a mais, como no mangá. Ainda em termos visuais, tem-se que os efeitos e a computação gráfica foram bem aplicadas.
Em especial sobre as kagunes (armas dos ghouls, expelidas de dentro para fora do corpo deles) e as quinques (armas do CCG, feitas com as kagunes dos ghouls assassinados). O resultado trouxe criaturas belas e cenas palpáveis, até por se tratar de um longa de baixo orçamento.
Ademais, é necessário levar em consideração a dificuldade de criação de seres tão distintos e únicos, bem como o gênero voltado para uma narrativa de violência e terror. Ou seja, apela para o gore e para o clima sombrio, de maneira explícita ou implícita.
Aqui entra a questão dos cenários construídos, que encaixaram muito bem com a trama, pelo fato de apostarem em tons frios, escuros e até melancólicos, contrastando com a ideia de normalidade e monotonia das ruas de Tóquio.
Com isso, criou mais um contexto de dualidade, dando ênfase à visão de criaturas sedentas à espreita. Esse sentimento é intensificado com a trilha sonora, ao priorizar batidas pesadas ou tristes.
Continua sendo um live-action, mas…
O pé atrás com adaptações (de mangá, livros ou desenho animados) não é novidade para ninguém. As decepções já foram tantas que é quase impossível verificar um anúncio de lançamento e não ter o sentimento de descrença.
Não foi diferente com Tokyo Ghoul, muitas pessoas se sentiram incertas com a novidade. Mas a conclusão final é a de que entregaram um trabalho satisfatório. É claro, poderia haver melhorias aqui e ali, porém somando tudo, chega-se à um lado mais positivo do que negativo.
Talvez a maior decepção, e isso ocorre no anime também, tenha sido a ausência de desenvolvimento dos personagens e de alguns pontos do enredo. Vale destacar que isso costuma ser normal em filmes, pelo tempo de tela, o que torna complicado abordar detalhes.
Outra questão que pode causar incômodo é a atuação dos atores. Vez ou outra não parecem muito espontâneas, fica um tanto quanto exagerado. Mesmo assim, há vários outros aspectos que tornam o longa aceitável, como os mencionados antes e as cenas de luta que são rápidas mas empolgantes. Portanto, penso que fica a critério do espectador decidir se vale a pena ou não. Eu, particularmente, prefiro o mangá.
Para os interessados, fãs ou não do Sui Ishida, fica a dica: o primeiro live-action, Tokyo Ghoul, está disponível na Netflix. Em relação à Tokyo Ghoul S, há a versão legendada nas seguintes plataformas: iTunes, Apple TV app, YouTube, Google Play, SKY, NOW e Vivo Play.