Muitos, vários, incontáveis animes são ambientalizados no universo escolar e você provavelmente já assistiu pelo menos um desses. Aquele sino clássico do colégio tocando ao fundo, os personagens apressados pelos corredores, a caminho das salas de aula.
Um aglomerado de estudantes admirando, enaltecendo e tentando conseguir a atenção daquele menino e/ou menina que se destaca em tudo, desde notas até o desempenho nos esportes. Pois é, acabei de descrever uma vasta quantidade de animes que você provavelmente já viu. E a gente adora isso, é verdade.
Mas, nem tudo que é mostrado nas escolas dos animes condiz com o que realmente acontece nas escolas do Japão e tá na hora de diferenciarmos essas coisas.
Estudantes moram sozinhos
Os animes têm o estranho costume de apresentar estudantes adolescentes que moram sozinhos e isso não é tão comum quanto as animações japonesas demonstram ser. Embora no Japão não existam resistências muito rígidas, no que diz respeito à necessidade dos serviços de proteção à criança e o adolescente terem que se envolver ativamente, a verdade é que são raros os casos em que essa situação acontece.
Os casos mais comuns geralmente são quando um aluno com ótimo desempenho escolar consegue entrar em algum colégio de prestígio que esteja localizado em uma cidade ou lugar muito distante de sua casa. Ainda assim, muitos desses colégios oferecem dormitórios para essas situações. Porém, quando não é o caso e de fato o colégio fica longe de casa, aí sim, vemos a possibilidade de o estudante ter que alugar um apartamento e morar sozinho.
Além de todas essas questões, ainda existe o fato de que muitos japoneses não têm condições de sustentar o filho em tais condições e tampouco gostam dessa ideia. Assim como os pais em todo o mundo, os japoneses fazem questão de saber que seus filhos estão e inclusive insistem que os filhos voltem para casa aos finais de semana ou eles mesmos vão até os filhos regularmente para checar se está tudo bem.
Feiras culturais
Tá aí uma coisa muito tradicional nos animes escolares e que, de fato, representa algo muito presente nos colégios japoneses. Em japonês chamadas de “bunkasai”, as feiras culturais são eventos anuais abertos que são realizados na maioria das escolas do Japão. Essas feiras são feitas em todos os graus de escolaridade, desde creches até universidades e elas são realmente importantes para os estudantes, tanto quanto os animes fazem questão de mostrar.
É claro que é pouco provável que essas feiras tenham os “maid cafe” ou qualquer outra coisa do tipo, mas os alunos fazem apresentações, servem comida e expõem suas atividades escolares para os visitantes. Os “bunkasai” costumam acontecer aos finais de semana, de modo que o cronograma escolar não seja prejudicado, tampouco o aprendizado dos alunos. Assim como nos animes, dá bastante trabalho organizar e preparar essas feiras culturais, mas a maioria dos estudantes se mantém engajada e fica bastante animado para participar dos preparativos.
Estudantes conciliam trabalho com escola
Nos animes, normalmente vemos personagens que pegam trabalhos de meio período quando não estão em horário de aula, para conseguirem uma renda própria (ou até mesmo pagar as contas, naqueles casos em que os personagens moram sozinhos).
Na vida real, embora cada colégio estipule as próprias regras, muitos deles proíbem estritamente que os estudantes conciliem trabalho com escola e o aluno que for pego trabalhando pode ser severamente punido. Essa proibição é motivada principalmente porque as escolas querem que seus estudantes permaneçam concentrados nos estudos e atividades dos clubes escolares.
Alguns animes até chegam a incluir essa regra, como em Yu-Gi-Oh!, onde a personagem Téa Gardner foi chantageada por uma pessoa que a fotografou enquanto estava trabalhando em um restaurante de fast food. A chantagem foi bem sucedida, uma vez que se a escola de Téa descobrisse a existência daquela foto, esta estaria com grandes problemas.
O Conselho Estudantil manda em tudo
Quando se trata de animes escolares, o nome “conselho estudantil” faz qualquer um tremer. Esse seleto grupo de alunos tem influência e poderes quase que ilimitados, que às vezes, se estendem para fora dos muros do colégio, como em Kill La Kill. A autonomia do conselho estudantil permite que os alunos façam o que quiserem sem terem que prestar contas nem mesmo para a administração do colégio em que estudam. Mas pera lá, jovem. Não é bem por aí que a banda toca, não.
No Japão, fazer parte do conselho estudantil pode até ser uma boa conquista para um jovem estudante, mas na vida real isso não é tão incrível assim. Os membros do conselho estudantil têm alguma autoridade, mas é pouca, bem pouca mesmo, quase que insignificante. De vez em quando, eles podem votar em algumas questões propostas pela administração do colégio, mas seus votos não são, de maneira alguma, imprescindíveis para que uma decisão seja tomada, cabendo somente à administração tomar quaisquer decisões definitivas.
Os estudantes têm livre expressão pessoal
É uma característica muito forte dos animes os cabelos coloridos, excessos de adornos como brincos, pulseiras, piercings ou quaisquer outras modificações na aparência ou forma de se vestir que venham a expressar a personalidade do aluno são raramente permitidas em colégios da vida real no Japão. Pelo contrário, a regra proposta pelas escolas é a de que os estudantes mantenham uma aparência neutra e conservadora. Para isso, grande parte das escolas estabelecem as próprias regras de como se vestir e se portar dentro do ambiente escolar.
Em alguns colégios, por exemplo, os alunos são proibidos de fazer a barba, usar maquiagem e até mesmo devem seguir um tamanho padrão estipulado pelo colégio, para o comprimento dos cabelos. Isso varia de cada instituição de ensino, algumas são menos exigentes. Ainda assim, é altamente improvável que você vá ver uma estudante com cabelo rosa, azul, etc.
É preferível pelos colégios que os alunos tenham cabelos pretos ou castanhos. Às vezes, tão preferível que instituições mais rigorosas exigem que um aluno de cabelo castanho pinte para preto. É claro que essas determinações mais autoritárias são ativamente contestadas por meio de ações judiciais.
Uniformes escolares estilosos
É de se imaginar que, depois de falarmos das regras limitantes que várias escolas adotam na forma com que os estudantes devem se expor fisicamente em ambiente escolar, chegássemos à questão dos uniformes escolares. Os uniformes usados pelos estudantes nos animes são outro detalhe clássico que é amplamente ilustrado nos animes.
A maioria das escolas exige o uso de um uniforme específico, sim. Porém, esses uniformes costumam ser bem mais neutros e conservadores do que os que são mostrados nos animes. O tamanho e o design dos uniformes são um outro ponto. As saias das meninas não são curtas como alguns animes mostram e normalmente as roupas tendem a seguir designs básicos, com blazers, calças, saias de comprimento razoável, os muito conhecidos uniformes de marinheiro ou então os gakuran, que são uniformes pretos que têm gola alta e botões dourados.
Ainda assim, não são todos os colégios que exigem o uso de uniforme. Algumas instituições permitem que seus estudantes usem roupas do cotidiano ou, até mesmo, desenvolvam uniformes próprios por meio de empresas especializadas. Em colégios assim, é até possível encontrar estudantes usando roupas um pouco mais “da moda”, mas será algo pessoal, de um único aluno, e não a vestimenta padrão da escola.
Estudantes têm livre acesso ao terraço da escola
Personagens de animes gostam muito de se reunir no terraço dos prédios escolares. Seja para comerem juntos, discutirem ou até mesmo para confessarem o seu amor à outro colega. O terraço parece ser um dos locais favoritos dos alunos dos animes, mas na vida real a história é outra.
Estudantes não têm acesso ao terraço da escola e são proibidos de subir até lá. O que, na verdade, faz muito sentido, tendo em vista que pode ser extremamente perigoso ter uma alta concentração de jovens, sem supervisão de um responsável, em cima de um prédio com altura suficiente para levar à óbito qualquer um que cair dali. Outro motivo é a preocupação acerca do número alarmante de suicídios que acomete a população japonesa. Esse número inclui casos em que as vítimas eram apenas jovens estudantes. Nenhuma escola devidamente responsável e em sã consciência iria expor seus alunos à um local em que qualquer um deles pudesse se machucar, ou pior.
Os clubes de atividades são coisa séria!
Tanto na vida real quanto nos animes, os clubes de atividades que as escolas oferecem são uma parte extremamente importante na vida dos estudantes e eles levam muito a sério as atividades propostas. O engajamento por parte dos alunos é tão ferrenho que algumas pessoas se preocupam com a forma com que esses clubes podem acabar prejudicando o tempo que os alunos teriam pra passar com suas famílias, estudando ou até mesmo dormindo.
Tem apenas um porém. Clubes esportivos, de serviços, redação e bandas existem tanto nos colégios das animações japonesas quanto na vida real. Mas, dificilmente você vai conseguir autorização da administração das escolas na vida real pra fundar um clube de telepatia, por exemplo.
Estudantes limpam as salas de aula
Esse é um costume retratado nos animes que também condiz bastante com o que de fato acontece nas escolas japonesas. A prática de limpar e organizar o seu próprio espaço, bem como um local de uso comum é conhecida, em japonês, como o-soji.
Esse estímulo tem como objetivo encorajar os japoneses desde a infância a assumirem responsabilidade pelos cuidados com os ambientes que frequentam e com a preservação destes. As escolas muitas vezes sequer contratam zeladores e equipe de limpeza, tendo em vista saberem que os alunos terão a tarefa de arrumar e limpar tudo regularmente.
A escola tem envolvimento profundo na vida dos alunos
Em Boku no Hero, All Might e Aizawa vão até as casas dos pais de seus alunos. Isso não é uma situação deliberada por parte do anime. Não somente os professores fazem reuniões nas casas de seus alunos, como esse professor é considerado responsável direto pelas ações daquele determinado aluno. A responsabilidade é tão grande que, caso o jovem se meta em confusão com a polícia, por exemplo, o professor em questão pode ser contatado pela polícia antes mesmo que os próprios pais do aluno.
A escola também acompanha seus estudantes em outra situações, como: certificar-se que o estudante não está trabalhando quando não está na escola; impor toques de recolher, aos quais os alunos têm que obedecer e estar em casa após determinado horário; proibir que os jovens saiam para lugares como karaokês ou centros de jogos sem estarem acompanhados dos pais ou responsáveis; proibir que o estudante durma na casa de um colega sem permissão, e muito mais.
Assim como nos filmes, séries, novelas e demais expressões artísticas e de entretenimento, a cultura local, os costumes, hábitos e afins oscilam entre manterem-se autênticos com o que de fato acontece na vida real e acrescentarem ou removerem aspectos próprios, fazendo jus à liberdade de expressão que a arte oferece. Quais dessas semelhanças e diferenças você conhecia? Sabe de mais alguma que não foi mencionada aqui? Participe nos comentários. Nos vemos na próxima aventura!