Umi Ga Kikoeru, também conhecido como Eu Posso Ouvir o Oceano ou The Ocean Waves, é um filme do renomado Studio Ghibli, lançado em maio de 1993. Foi dirigo por Mochizuki Tomomi e escrito por Kaori Nakamura, com base em um romance homônimo de 1990, da novelista Saeko Himuro.
Vale ressaltar que Mochizuki trabalhou em animes relevantes e bem distintos, tais quais Ranma ½, Battery e Pupa. Outro aspecto curioso é que Ocean Waves foi o primeiro filme Ghibli com uma direção diferenciada, ou seja, sem o comando dos grandes nomes da direção do Studio: Miyazaki ou Takahata.
Por fim, a obra em análise é tida como um romance aliado à drama escolar e slice of life, com 1 hora e 12 minutos de duração apenas. Importante destacar que se encontra disponível na plataforma Netflix, junto com vários outros filmes relevantes do Studio Ghibli.
Simplicidade que encanta
O presente filme se passa em Kochi, uma região interior do Japão. Ele retrata uma história simples de amor e de amizade na época do ensino médio, com três personagens relevantes: Morisaki Taku, Matsuno Yutaka e Rikako Muto.
Os dois primeiros são melhores amigos, enquanto Rikako chega depois, tendo sido transferida para a escola deles no meio do ano por causa de problemas familiares. Ela morava em Tóquio, de modo que apresenta dificuldades para se adaptar ao novo local, por causa dos costumes e do dialeto.
Além disso, Rikako acaba se destacando nas notas e na beleza, despertando a atenção de garotos e garotas. Com o tempo, os colegas de turma notam um ar de esnobe e de egoísmo por parte dela, que acaba por receber fama de desagradável e fica um tanto quanto excluída.
Quanto ao Taku e Yukata, os dois tentam ajudar Rikako e no processo acabam descobrindo um pouco mais dos sentimentos de cada um em relação à ela. Isso acaba por afetar e influenciar a amizade deles, bem como despertar fofocas e intrigas entre os três.
Algumas das ondas marcantes da obra
O traço dos anos 90 consegue chamar bastante atenção, mesmo com sua simplicidade na maior parte do tempo. O design dos ambientes é bem aconchegante e harmonioso, criando uma recepção calorosa e marcante, com alto nível de “aesthetics”.
Sobre o design dos personagens, tem-se que consegue ser carismático e envolvente, mesmo com o visual e aparência comum na maior parte dos quadros. Lembrando que foi elaborado por Katsuya Kondou (fez também o quadro-chave de Mononoke Hime).
Fizeram parte da equipe da dublagem os seguintes profissionais: Toshihiko Seki, como Yutaka Matsuno, Nobuo Tobita como Taku Morisaki e Youko Sakamoto como Rikako Muto.
Aparentemente, foi o primeiro trabalho de voz da Youko, muito bem executado por sinal, assim como o dos outros dois, que já participaram em Bleach, Gintama, Golden Kamuy e demais animes.
Outro aspecto que torna a história interessante é a personalidade de cada um do trio. O Taku tem um jeito mais solto e extrovertido, sempre falando o que pensa e sendo bastante desafiador, além de trabalhar muito. Yutaka, por outro lado, é mais responsável, estudioso, educado e gentil.
Por último, Rikako, que parece uma tempestade de sentimentos e atitudes, nunca permitindo que a gente saiba como ela vai se portar. Na verdade, tudo que o espectador tem certeza é que ela passa por problemas e é bastante influenciada por eles, agindo mais com a emoção.
No quesito musical, pode-se afirmar que o espectador é brindado com a música Umi ni Naretara; If I can be an Ocean, por Youko Sakamoto. A melodia é calma e relaxante, combinando muito com o clima do longa e do final, meio que de paz e aceitação nos corações de cada um.
Ocean Waves é um slice of life que cumpre seu papel
A trama se desenrola por causa de uma viagem escolar anual que é cancelada, com o objetivo dos alunos alcançarem um rendimento maior nas notas. Ocorre que Taku e Yutaka ficam insatisfeitos com a decisão e tentam encontrar uma saída, conseguindo uma ida para o Havaí, onde todos os problemas começam a ganhar forma.
Existem dois pontos aqui que merecem ser ressaltados: como dito antes, o filme é slice of life, dando uma impressão de não querer chegar a lugar algum. Várias vezes há a sensação de “para onde essa história toda está me levando? Onde o autor quer chegar?”.
Inicialmente parece algo ruim, mas com o tempo você se vê com uma curiosidade sincera sobre o desfecho da obra e de cada personagem. Isso por causa da narrativa, que é o segundo item relevante e consegue ser incrivelmente gostosa de se acompanhar, fluindo perfeitamente, sem se tornar cansativa.
Aliás, um dos personagens que o espectador mais compreende é o Taku, já que tudo é passado pela visão dele, mesclando passado e presente. Talvez por isso seja difícil acompanhar a perspectiva de Rikako, pois Taku parece não saber como ela se sente e ele mesmo não entendia nem aceitava os sentimentos dele por ela, em respeito ao melhor amigo.
Inclusive, mais uma vez reforço que tenho desgosto por triângulos amorosos, acho um assunto complicado e que pode ser a ruína ou o sucesso da obra. No entanto, em Ocean Waves esse elemento funciona com uma naturalidade incrível, deixando grandes resquícios de amadurecimento e compreensão por parte dos três.
Identificação e pitadas de magia da vida real em Ocean Waves
Também é fascinante a reflexão trazida em cada figura, os questionamentos sobre como agiríamos e sobre como já agimos em determinadas situações. Não tem como não se sentir na pele de algum dos três (Riko, Taku e Yutaka), pois ainda que em uma época distante, trata de conflitos sempre atuais e vívidos, ligados à emoções e sensações.
Sinceramente, mesmo sem a fantasia e com um enredo nada complexo, o Studio Ghibli conseguiu fazer um belíssimo trabalho. Ocean Waves é delicado e não traz um fim, mas sim novos começos, representando muito bem as idas e vindas da vida. Tanto de sentimentos quanto de novas pessoas, novos trabalhos e novos rumos.
Há, assim, o retrato da imensidão da vida, que também pode ser percebido ao observar o mar. Ocasião em que visualizamos constantes mudanças nas ondas, que vem e vão em diferentes formatos, sem saber quem alcançarão.
Sem saber o tipo de sentimento que provocam em cada testemunha, mas com a certeza de que despertam algo. No caso em questão, uma experiência boa que merece plateia, principalmente em dias tranquilos.