Ainda em novembro de 2018 a Saraiva entrou com um pedido de Recuperação Judicial 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, que foi aceita pelo juiz Paulo Furtado de Oliveira Filho naquele mesmo mês. Desde essa época a situação da Saraiva tem se tornado caótica, fazendo com que os colecionadores de mangás também tivessem uma opção a menos de compra.
Sim, desde o ano passado a Saraiva não tem mostrado um catálogo de mangás suficiente o bastante para que os fãs trocassem informações e procurassem melhores descontos e diversas opções de títulos. Na verdade a situação ficou ainda mais complicada quando, sem mais nem menos, os mangás mensais sumiram da loja online.
A Saraiva, até antes das dívidas que fez (chegou a R$684 milhões), possuía um grande estoque das principais editoras do país, e rivalizava com a Amazon, principalmente em épocas como “Book Friday” ou descontos progressivos em dias especiais. Esses descontos também valem para os fãs de comics e graphic novels.
E desde o sumiço dos mangás as opções para os colecionadores se tornaram cada vez mais escassas. Bem, não exatamente escassas, mas como o Brasil é um país continental, nem todas as lojas regionais conseguem atender bem todas as regiões (algumas sequer têm loja online e dependem do Mercado Livre, por exemplo), sobrando um monopólio gigantesco para a Amazon.
Então, mesmo que a Saraiva esteja completa de dívidas e problemas, tê-la no mercado pode ao menos tornar as coisas mais fáceis para o mercado editorial como um todo. Para entender com mais profundidade a crise da Saraiva é importante que cada colecionador leia com calma, pois é algo que se arrasta há mais de um ano.
A notícia “boa” é que o plano de Recuperação Judicial da Saraiva foi aprovado pelos credores no dia 29 de agosto.
O que significa esse plano?
A Saraiva está devendo para uma série de editoras, desde as de livros até as de quadrinhos. Isso significa que a JBC, Panini e NewPop, principalmente, não receberam o dinheiro de suas vendas, ao menos do que foi vendido pela Saraiva, o que não é pouco. A Saraiva tem 85 lojas em 17 Estados do país, mais o comércio eletrônico.
Em uma crise editorial como a nossa, em que as contas das editoras são fundamentais para manter salários, empregos e publicações, uma grande empresa como a Saraiva simplesmente chegar próximo à falência é extremamente perigoso.
Pedir Recuperação Judicial significa dizer que não dá mais para manter a empresa funcionando como está. É preciso rever todo o planejamento de venda e estratégias para o comércio continuar funcionando. Há uma postagem que eu mesma escrevi em outro site sobre a diferença entre Recuperação Judicial e Falência, apenas para vocês conseguirem compreender esses termos jurídicos/contábeis.
Pois bem, depois de muito atraso, apenas agora em agosto o planejamento para rever as dívidas e como será feito os pagamentos delas foi aprovado. Segundo o próprio documento da Recuperação Judicial, a Saraiva deve pagar 5% da dívida de R$ 684 milhões ao longo de 15 anos.
Já segundo a matéria da Folha de São Paulo, os outros 95% serão pagos em títulos de dívidas, que serão emitidos 16 anos após a homologação do acordo.
Como não sou muito entendedora de números, farei uso da explicação da Publish News, um portal jornalístico específico que atua criando conteúdo sobre o mercado editorial brasileiro.
“O plano aprovado prevê que os credores estratégicos fornecedores – aqueles que forneçam produtos de revenda – podem se tornar credores fornecedores incentivadores desde que concordem em dar crédito de no mínimo 35% do valor total devido, incluindo produtos já faturados e não pagos e aqueles que estão em consignação. Para estes, a Saraiva propõe o pagamento de 60% do valor devido parcelado em 15 anos, com escalonamento progressivo: nos dez primeiros anos, a empresa propõe pagar 2,66% do total devido a cada ano e esse percentual cresceria no decorrer dos anos, indo para 6,8% no 11º ano; 15,26 no 12º; 18,01% nos anos 13 e 14 e finalizando com 18,08% no 15º ano.
Os 40% restantes seriam pagos com 50% da geração de excedente do seu caixa, conforme laudo de viabilidade econômico-financeira apresentado pela consultoria Galeazzi.”
Esse foi o melhor plano que conseguiram fazer para ao menos não decretar falência, o que seria muito pior a todos os credores e o público consumidor. O futuro da Saraiva ainda é um tanto incerto, e não sabemos se teremos mais uma vez um catálogo relativamente grande de mangás.
De toda forma, é importante que fiquemos de olho em como a Saraiva sairá dessa crise. No futuro devo criar um artigo falando de outras opções para compra de mangá que não seja a Amazon. Apesar de ela ainda ser a mais importante nos dias de hoje, mas, depois das crises da Livraria Cultura e Saraiva, temos que começar a olhar para outras opções que não seja unica e exclusivamente a Amazon.