Lançada em 16 de novembro de 2018, a primeira temporada de She-ra: Princesas do Poder (Princess of Power no original) foi ao ar pela Netflix. A segunda e terceira temporadas foram lançadas todas em 2019, respectivamente em abril e agosto. A quarta está prevista para novembro.

Está na hora de falar um pouco do desenvolvimento da história, evitando spoilers, e mostrar como é uma série com grande potencial para ser uma das animações mais bem feitas da Netflix

É claro que dar todo o crédito para a Netflix é injusto, por isso que é preciso parabenizar a criadora dessa nova reformulação de She-ra. Noelle Stevenson não é apenas autora de She-ra: Princesas do Poder, mas também é ilustradora e quadrinista, com obras já bem conhecidas e consolidadas: Nimona e Lumberjanes. Ambas as obras da autora norte-americana já foram lançadas no Brasil.

Antes de mais nada é necessário lembrar que o público-alvo de She-ra na Netflix é para crianças e adolescentes dos dias de hoje, assim como He-man e She-ra clássicos foram para as crianças da década de 80/90. Com uma diferença de várias décadas, o mercado consumidor é outro, com comportamentos diferentes, como já diria Henry Jenkins no livro Cultura da Convergência

As possibilidades de criação e produção de animações também mudaram, com novas tecnologias benéficas, favorecendo uma camada diversa de profissionais do setor. Pensando em todas essas mudanças, é óbvio que She-ra da Netflix seria completamente diferente da She-ra da década de 1980

Não entrando nesse mérito, ambas as séries possuem sua importância. A série clássica também pode ser vista pela própria plataforma da Netflix, portanto, os nostálgicos também estão sendo contemplados. Mas, estamos aqui para falar da nova série de She-ra, então vamos nessa. 

Um aviso antes de continuarmos: a dublagem brasileira está muito boa, e usarei os nomes em português ao invés do original. 

O início de tudo

Dessa vez, Adora é apenas uma jovem de 16 anos que vive na Zona do Medo, refúgio de Hordak, general da Horda, e não há nenhuma relação com He-man (pelo menos até aqui). Toda a ambientação e os acessórios de Ethéria estão presentes, desde a espada da She-ra, os dizeres clássicos “pela honra de Grayskull”, a presença das princesas do poder e até o cavalo da She-ra. Porém tudo está reformulado.

Assim como em Digimon, algumas vezes que a Adora se transforma em She-ra, há essa animação.

Mesmo com uma mudança brusca, a construção base da Adora é bem definida desde o primeiro episódio da série. É uma garota que se esforça bastante para servir a Horda, mas também possui uma grande empatia pela sua equipe de companheiros. Em particular, é uma grande amiga da Felina (Catra, no original), mesmo que ela demonstre ser bem egoísta e arrogante.

O enredo se encaixa bem já no segundo episódio, quando Adora consegue ver que os rebeldes que a Horda dizia existir, na verdade era apenas um conjunto de cidades pacíficas e com habitantes inocentes. Ver o outro lado da moeda só foi possível por conta da espada da She-ra que Adora viu e tocou. 

O ataque de uma aranha gigante, a transformação da Adora em She-ra e a ida à ruína dos Primeiros fizeram Adora repensar sua função e obediência à Horda. No meio da caminho ainda conheceu dois estranhos: Cintilante e Arqueiro. O relacionamento deles também não é dos melhores no início, mas vai se tornando mais intensa e saudável conforme o tempo. 

Adora e Felina, ainda quando estavam na Horda

O contraste do que a Horda dizia com a realidade que Adora pode ver trouxe o lado crítico e empático dela novamente. Tentando entender de onde veio, porque se transformou em She-ra e conseguia ler os escritos dos Primeiros (ao que dá a entender foram os primeiros povos a povoar Ethéria, há mais de 1000 anos), resolveu ficar ao lado da Cintilante e do Arqueiro

Isso enfureceu Felina, que se sentiu traída, esquecida e abandonada. É importante aqui vermos que são adolescentes de 16 anos, muitas vezes apenas orgulhosos demais, arrogantes e rebeldes. Felina no início é exatamente isso. Difícil entender suas motivações, afinal, ela mostra confusão e não é exatamente uma vilã, assim como muitos personagens da Horda

Esse é o plot inicial da primeira temporada. A Adora quer entender seus poderes e o que é a She-ra, e então ela vai descobrindo mais sobre Lua Clara (a capital de Ethéria por assim dizer) e Ethéria. Conhece outros reinos, um pouco sobre os Primeiros e conforme as temporadas passam, mais vamos entender também o que é a Horda, quem é Hordak (o grande vilão) e as encruzilhadas e complicações históricas de Ethéria

Hordak, por incrível que pareça, tem alguns trejeitos bem humanos…

As representações de personagens

She-ra é um desenho que apresenta uma diversidade imensa de personagens. Há etnias diferentes, orientações sexuais, diferentes gênios e personalidades para as personagens femininas e muito mais. Há casal hétero, casal gay, casal lésbico, mãe solteira, tudo que nossa sociedade também possui. 

E tudo é muito natural e tranquilo, o que traz uma normalidade muito grande para essa diversidade. É um exemplo muito saudável e ótimo para as pessoas de todas a idades a verem como é normal e comum terem pessoas diferentes na sociedade. 

Por isso vamos ter comédia, drama, lutas e coisa bem de desenho adolescente. Não vai ter sangue, nem violência explícita, mas está ali presente que alguns embates serão necessários. O principal deles, na primeira temporada, é contra a Sombria (Shadow Waiver no original), uma feiticeira poderosa que cuidou e educou Adora e Felina

O passado dela é mostrado na segunda temporada. E ela é mais do que uma feiticeira sombria.

A primeira e segunda temporadas focam na história da Sombria, Adora e Felina. Na terceira a história fica ainda mais complicada. O universo aumenta, mais personagens são desenvolvidos e as decisões da Adora ficam cada vez mais sensíveis. 

Imagina: ela foi educada e viveu 16 anos na Horda, há um apego natural por alguns personagens e ela entende que nem todo mundo ali é de fato “mau”, mas sim foram ludibriados, convencidos que ali era melhor que Lua Clara. Ethéria, por outro lado, possui falhas e situações um tanto vergonhosas na sua história. 

Ela, como She-ra, se vê em dúvidas do que fazer, quem ser, como proteger Ethéria e procurar o equilíbrio do universo. Isso com 16 anos! É algo interessante de ver, pois os personagens não são maduros o suficientes, então vivem com crises de rebeldia, às vezes com sentido, às vezes por pura birra. 

O trio principal tem um relacionamento muito massa: Cintilante, Adora e Arqueiro. Eles aprendem um com o outro e evoluem a cada episódio, juntos. O desenvolvimento deles é engraçado, bonito e divertido. 

Cintilante às vezes irrita, mas ela amadurece muito. Adora sempre foi um amorzinho, e o Arqueiro é uma aula em como não ter masculinidade frágil.

Enfim, acho que apenas pelo plot inicial da história vale a pena ver She-ra: Princesas do Poder. E quem achava que remakes não davam certo, She-ra teve 3 temporadas em um único ano. Tudo demonstra que a história terá seu desenvolvimento tranquilo até chegar ao seu fim, sem pressão de cancelamento. 

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